domingo, 19 de julho de 2009

Acabou a Guerra - pintura e colagem de João Silva


A Guerra
E tropeçavam todos nalgum vulto,
quantos iam, febris, para morrer:
era o passado, o seu passado — um vulto
de esfinge ou de mulher
Caíam como heróis os que não o eram,
pesados de infortúnio e solidão.
(Arma secreta em cada coração:
a tortura de tudo o que perderam.)
Inimigos não tinham a não ser
aquela nostalgia que era deles.
Mas lutavam!, sonâmbulos, imbeles,
só na esp'rança de ver, de ver e ter
de novo aquele vulto
— imponderável e oculto
— de esfinge, ou de mulher.
(David Mourão-Ferreira, in "Tempestade de Verão")

Sem comentários:

Enviar um comentário