terça-feira, 13 de setembro de 2011

Budapeste-Um grande risoto,outra vez muita historia ,o comunismo está no museu e uma visita perturbante ao museu do holocausto.









































































































































Budapeste - de 8 a 12 de Agosto.


Os guias turísticos anunciam em grande pompa que budapeste é “a paris de leste” e seria tão poético subscrever essa opinião quanto seria patético negá-la. Na verdade, Budapeste retém um velho encantamento imperial que a faz ser eternamente comparada a Paris e Viena. São grandiosas as avenidas e impressionantes os edifícios; é surpreendente a conservação intocável das fachadas e o respeito histórico pela estrutura original dos Habsburgos, não esquecendo a referência avantgarde nos mais belos pormenores de arquitectura, como o portão de ferro do Palácio Gresham, o telhado de vidro dos Banhos Gellért ou o exterior da Florista Philanthia na Rua Váci.

Custa a acreditar que o cerco de Budapeste pelos aliados em 1944 tenha dizimado a arquitectura e a Ponte das Correntes pela segunda vez na sua história (a primeira foi na guerra de 1914-18). É doloroso imaginar a soberba dos soviéticos ao entrar pela cidade em 1956 para silenciar uma das revoltas mais nobres da história da guerra-fria, executando o Primeiro-ministro húngaro Imre Nagy dois anos depois. Nos dias de hoje, a homenagem da cidade ao iconoclasta faz-se a um tiro do Parlamento, no Bairro V de Belváros, onde o pequeno entroncamento de tempos e revoluções parece segredar uma certa ironia histórica ao transeunte: afinal, a estátua de Imre Nagy observando o Parlamento, esse sepulcro da democracia por si ambicionada, fica a cerca de 50 metros do Monumento ao Exército Vermelho, que simboliza a libertação de Budapeste pelos soviéticos no fim da Segunda Guerra Mundial.

Mas estamos numa cidade que caiu e se levantou, que repetiu os erros de sempre e engoliu em seco, que olha os demónios de frente e solta os esqueletos do seu armário. Não é uma cidade de indiferença ou transversalidade; apesar da tradição nómada cigana, este é um local que se visita uma vez e se fica para sempre. Budapeste é ideal para o romance, para a conquista, é feita de paixões assolapadas e consequências vitalícias. E as grandes paixões vivem de rasgos de irracionalidade. Porque, afinal de contas, nenhum casal comprometido pode evitar apaixonar-se por Budapeste. E se isso acontecer consigo, caro leitor, será que aguenta mesmo uma situação de triângulo amoroso? É que Budapeste tornou-se subitamente uma amante exigente e dispendiosa.

Os preços subiram, a economia de mercado disparou, a Hungria aderiu à União Europeia, e os comerciantes parecem negociantes de alta competição. Por isso, não entre num táxi sem estar disposto a pagar o preço – ou seja 300 forints, cerca de 1,25 euros de bandeirada inicial. Se apanhar um taxista errante pela cidade, tente combinar o preço de antemão ou negociar a viagem antes da primeira bandeirada e manter o seu olhar bem atento no taxímetro. O mais seguro é pedir sempre – atenção: sempre – um táxi ao concierge do seu hotel, ou então ligar directamente para os números de telefone das companhias que lhe fornecemos no guia. O serviço de táxi, tal como a rede de transportes públicos, seja metropolitano ou carro eléctrico, é de primeira categoria, um modelo de eficiência verdadeiramente imperial.

Um exemplo. A nossa reportagem obrigou-nos a viajar para os arredores da cidade, bem longe do centro histórico, na tentativa de descobrir as relíquias do Mercado Público de Esceri, uma espécie de Feira da Ladra do antigo Bloco de Leste (uma experiência inesquecível, e ao preço da chuva). À saída do local, um telefone público permitiu-nos solicitar rapidamente um táxi que nos levasse de volta ao hotel. Não houve negociatas nem taxas adicionais pelo facto de o pedido para um transporte da cidade ser feito do fim do mundo (Esceri fica a meia hora de viagem do centro, mas também se pode ir de Metro). A maioria dos taxistas não fala Inglês, mas se lhe indicar o seu destino no mapa ele não inventa circuitos alternativos nem desculpas de mau pagador.

No entanto, se vai para Budapeste, não espere grandes benesses: a Hungria tem uma forte tradição no estudo das ciências exactas e isso envolve tudo que seja comércio local. Não é à toa que este país ambiciona ser o Silicon Valley da Europa de Leste e conseguiu 12 Prémios Nobel no século passado, muitos deles de Matemática e Economia. Por isso, enquanto observa sorrateiramente a pacatez silenciosa do seu taxista, imagine que também ele tem de financiar os estudos do filho, o provável próximo génio de Matemática que a Hungria se propõe criar. Seja complacente: você acaba de chegar ao país do Cubo de Rubik.

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