quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Malangatana 1936-2011




Moçambicano, Malangatana faleceu aos 74 anos esta madrugada, no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, vítima de doença prolongada, segundo a direcção do hospital.

O pintor, nomeado pela UNESCO Artista pela paz em 1997 e, recentemente, doutor honoris causa, pela Universidade de Évora, vendeu os primeiros quadros há 50 anos e com o dinheiro arranjou uma casa e foi buscar a família para Maputo. Meio século depois, morreu um homem do mundo, um amigo de Portugal e um dos moçambicanos mais famosos.
Malangatana Valente Ngwenya nasceu a 6 de Junho de 1936 em Matalana, uma povoação do distrito de Marracuene, às portas da então Lourenço Marques, hoje Maputo.
Nos últimos 50 anos foi também muito mais do que pintor. Fez cerâmica, tapeçaria, gravura e escultura. Fez experiências com areia, conchas, pedras e raízes. Foi poeta, actor, dançarino, músico, dinamizador cultural, organizador de festivais, filantropo e até deputado, da FRELIMO, partido no poder em Moçambique desde a independência. Na verdade Malangatana viveu parte da sua adolescência junto dos colonos portugueses, os mesmos que o iniciaram na pintura, primeiro o artista plástico e biólogo Augusto Cabral (morreu em 2006) e depois o arquitecto Pancho Guedes. O pintor iria “nascer” nessa noite, quando Malangatana foi a casa de Augusto Cabral e o viu a pintar um painel. “Ensine-me a pintar”, pediu. E Augusto Cabral deu-lhe tintas, pincéis e placas de contraplacado. “Agora pinta”, disse ao jovem, ao que este perguntou: “pinto o quê?”. “O que está dentro da tua cabeça”, respondeu Augusto Cabral. O jovem viria a ter também o apoio de outro português, o arquiteto Pancho Guedes, que lhe disponibilizou um espaço na garagem de sua casa de Maputo e lhe comprava dois quadros por mês, a preços inflacionados. Em poucos meses Malangatana quis fazer uma exposição e foi, para espanto confesso de Augusto Cabral, um enorme sucesso.
Malangatana participou no projecto "À Conversa Com..." numa visita memorável à Biblioteca Municipal de Algés - Palácio Anjos, em 1998. Colaborou ainda como ilustrador no dicionário Português-Guitonga /Guitonga-Português (o principal dialecto falado na província de Inhambane, no Sul de Moçambique), edição da Câmara Municipal Oeiras publicada no âmbito dos projectos de cooperação da geminação Oeiras-Inhambane (ideia lançada em 1999 pelo escritor moçambicano Mia Couto).

Sem comentários:

Enviar um comentário