segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Agostinho sobre encarar a morte. Não morre o que viveu para a ideia e pela ideia.


Encarar a Morte

É talvez sinal de prisão ao mundo dos fenómenos o terror e a dor ante a chegada da morte ou a serena mas entristecida resignação com que a fizeram os gregos uma doce irmã do sono; para o espírito liberto ela deve ser, como o som e a cor, falsa, exterior e passageira; não morre, para si próprio nem para nós, o que viveu para a ideia e pela ideia, não é mais existente, para o que se soube desprender da ilusão, o que lhe fere os ouvidos e os olhos do que o puro entender que apenas se lhe apresenta em pensamento; e tanto mais alto subiremos quando menos considerarmos a morte como um enigma ou um fantasma, quanto mais a olharmos como uma forma entre as formas.

Agostinho da Silva, in 'Diário de Alcestes'

Poema com violino e fel


Podes ser puta

Musa emplumada

Passaro sem sangue

Barro sem parede


Podes cantar de noite

Pedir que os deuses te oiçam

Aproveitar a maré

Alugares os ouvidos aos outros


Mastiga tudo à tua maneira

Beija com boca de charroco

Ouve as lágrimas,ouve bem

Elas caem na tua alma


Que as cordas de violino

Te atazanem o juízo

E que o reino dos agudos

Te faça engolir o teu fel


(Amanhã pode não ser a repetição dos dias passados)

Estamos no meio de um tufão, que é a soma de ventinhos inofensivos

João Silva





A espera e não espera da morte, ou o novo livro de Lobo Antunes visto por José Gil


O filósofo José Gil classificou o mais recente romance de António Lobo Antunes, "Sôbolos Rios Que Vão", como "um grande livro, com muitos aspectos insólitos e inéditos na escrita do autor".
"É uma obra torrencial e uma das mais belas de Lobo Antunes", disse José Gil, no Museu da Água, em Lisboa, na sessão de apresentação do livro, editado pela Dom Quixote, que contou com a presença do autor.
O pensador começou por falar da "máquina literária de António Lobo Antunes", que tem como principais características "o tempo da escrita", composto por várias camadas de planos, dispostos em frases curtas e discurso directo, e o "entretecer desses planos sem que daí resulte uma narrativa linear", já que "a narrativa seria, afinal, a corrente de escrita ou o pensamento mesmo".

Essa máquina literária "funciona em pleno em 'Sôbolos Rios Que Vão'", defendeu José Gil, já que "neste romance quase parece, às vezes, que se urde uma trama", da qual "a espera e não espera da morte será porventura o traço mais evidente".

António Lobo Antunes comoveu-se com as palavras de José Gil - a quem agradeceu o facto de o "ter lido de peito aberto, que é a única maneira de se ler" - e falou da infância, da vontade que já tinha de escrever, das coisas más que escrevia e queimava depois em "pequenos autos de fé" no quintal e de não saber ainda que com trabalho poderia melhorar.

domingo, 28 de novembro de 2010

A Ribeira Negra definitiva de um Resende ainda lúcido e sonhador.




"Ribeira Negra" de Resende em espaço definitivo


AGOSTINHO SANTOS

"É uma explosão de prazer ver que, afinal, o trabalho não foi ignorado", disse, ontem, ao JN, Júlio Resende, na inauguração do "Espaço Ribeira Negra", no edifício da Alfândega, no Porto, que albergará, definitivamente, o painel com o mesmo nome, que já ali se encontra exposto há três anos.

A instalação definitiva desta obra de Resende, de 40 metros, oferecida pelo pintor à cidade há vários anos, veio assim atenuar algum descontentamento antigo do artista, uma vez que o trabalho esteve durante vários anos encaixotado nos armazéns da Câmara do Porto, cujo presidente, Rui Rio, não esteve presente, tendo-se feito representar pela vereadora da Cultura, Guilhermina Rego.

A ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, Manuel Pizarro, secretário de Estado da Saúde, e Isabel Santos, governadora civil do Porto, marcaram, igualmente, presença. De acordo com Júlio Resende, a colocação do painel num lugar digno de ser visto por muita gente é, antes de mais, "um momento justo para mim. E o que posso dizer é que agora, recuando no tempo, fazendo um pouco de história do painel, o tempo que perdi nele não foi inglório. Pelo contrário, proporcionou-me este momento de grande alegria e de prazer".

Para Gabriela Canavilhas, Júlio Resende é, indiscutivelmente, um dos maiores artistas portugueses da segunda metade do século XX e "este trabalho vem, na prática, demonstrar a grandiosidade e o talento do pintor".

A ministra considerou, por outro lado, que a permanência do painel "Ribeira Negra" no edifício da Alfândega - que agora comemora 150 anos - "proporcionará um excelente diálogo entre a contemporaneidade e o antigo, estabelecendo, desde aí, uma relação saudável de identidades".

Simultaneamente à inauguração do espaço do painel, foi aberta ao público uma mostra de obras recentes de Resende, tendo a ocasião sido aproveitada para distribuir uma serigrafia comemorativa dos 150 anos do edifício da Alfândega.

O Amor dá Berros na Visão



O Amor dá Berros Quando se Irrita em foco na revista Visão desta semana.

O novo livro de António Damásio



ANTÓNIO DAMÁSIO OS CIENTISTAS DEVIAM SER TAMBÉM PENSADORES

Com O Livro da Consciência (Círculo de Leitores/Temas e Debates), o mais conceituado neurocientista português vem mais uma vez desassossegar as nossas percepções sobre aquilo que faz de nós, humanos, por vezes demasiado humanos. António Damásio confessa ainda as suas tentações literárias e admite que um dia poderá publicar os textos que guarda na gaveta.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O ESTADO DA EDUCAÇÃO EM PORTUGAL no ultimo JL



O ESTADO DA EDUCAÇÃO EM PORTUGAL Entrevista com Ana Maria Bethencourt * Textos de Maria de Lourdes Rodrigues, Guilherme d'Oliveira Martins e João Santos

Entrevistas

Gilvan de Oliveira
Liaa Cholodenko
Julianne Moore
Artur Pizarro
Luís Miguel Cintra
Sérgio Godinho
Ricardo Rocha
Afonso Cruz

21 Anos da Convenção dos Direitos da Criança





A Orquestra de Djambes do Projecto 12-15 da Escola Intercultural da Amadora actuou na passada terça feira dia 23 de Novembro no auditório dos Recreios Artísticos da Amadora.
Esta actuação fez parte do programa das Comemorações dos 21 anos da Convenção dos Direitos da Criança, um evento organizado pelos PIEC ( Programa para a Inclusão e Cidadania).

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Lindu Mona nas Fnacs








Sábado e Domingo passados nas Fnacs do Alegro e do Colombo em dois concertos com o projecto Lindu Mona.
A sua influência é múltipla e diversificada e vai desde a música de raiz etnográfica e tradicional de Angola até ao Jazz, Reggae, Nova Música Improvisada entre outras. "Rosa Afra" é o disco de estreia de uma linguagem universal única . "Bantu " é a sua sequencia logica , um novo trabalho cheio de humanidade.

domingo, 21 de novembro de 2010

Foi preciso tanto tempo meu Deus ?


Dia 2 de Dezembro é a data prevista para a publicação, em Portugal, do livro em que o Papa Bento XVI admite a utilização do preservativo em casos específicos, nomeadamente "para reduzir os riscos de contaminação" do vírus da SIDA”.


sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Herbie Hancock Lisboa 2010


Herbie Hancock Lisboa 2010

Herbie HancockHerbie Hancock estará de volta a Portugal para um concerto no Campo Pequeno, Lisboa, no dia 7 de Desembro de 2010. Herbie Hancock, uma lenda do Jazz vai apresentar o novo projecto, The Imagine Project. Os bilhetes para o concerto variam entre 22 e 68 euros.

The Imagine Project contou com a participação de muitos famosos, entre eles: Dave Mathews, Anoushka Shankar, Jeff Beck, The Chieftains, John Legend, India Arie, Seal, Pink, Juanes, Derek Trucks, Céu, Susan Tedeschi, Chaka Khan, K´Naan, Wayne Shorter, James Morrison, Lisa Hannigan, etc
.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Uma carta da pintora Carolina Quirino


As nossas agendas parecem andar sempre desencontradas mas tanto quanto me é possível acompanho ao máximo os teus dois blogs. E dou-te uns telefonemazinhos de vez em quando para saber se estão todos bem.
Acho muito bem concebido "A Mão Contra a Mente". De facto, os teus trabalhos perdiam-se no sem fim de publicações que colocas n' "A Conquista da Bolina" e merecem imenso destaque. Continuo a adorar as tuas questões (ideológicas e conceptuais), criatividade e vontade de arrojar sem ofender o observador. São obras simultaneamente simples e complexas - simples na aparente percepção dos materiais que contêm, nas ideias mais directas que transmitem; complexas porque têm uma imensidão de pensamentos e reflexões por detrás, os elementos são colocados por uma razão específica num local concreto e muito pensado, as tintas são aplicadas através de um processo composto por algum automatismo mas também muita reflexão. Ainda me recordo da quantidade de dias que demoraste a decidir onde colocavas a tesoura e que cor exacta darias àquela tela que estava no teu atelier o ano passado; o quanto reflectiste sobre "A Ceia"...
Continuas a ser uma referência pela tua imensurável dedicação aos teus projectos e aos que te rodeiam; o dares tudo o que tens com as enormes capacidades de que és dotado; o facto de seres o meu "amigo pintor" que espero que perdure para sempre... Acima de tudo, és um "padrinho" que conheci e está presente desde os inícios do meu percurso e que me honro que continue a acompanhar-me!!:)
Um beijinho muito grande e tudo de bom para ti.
Carolina

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Giacometti no Jornal Público





No ano em que se assinalam vinte anos do desaparecimento do etnomusicólogo Michel Giacometti, a Tradisom, Vídeos RTP e o jornal Público, com o apoio do Museu da Música Portuguesa que alberga parte substancial do seu espólio, editam a sua filmografia completa em 12 volumes. Para além da sua cinematografia, esta edição reúne contribuições de diversos investigadores, contando também com a participação especial do fotógrafo Augusto Brázio, que construiu um conjunto de portfolios sobre os objectos, os lugares e as pessoas que atravessam o trabalho de três décadas de Michel Giacometti. A colecção de 39 documentários, que estará disponível no mercado a 22 de Novembro, assume uma importância e interesse extraordinários, pois apresenta o primeiro levantamento em filme das práticas musicais de um povo feito de forma exaustiva, sendo que algumas delas já estão desaparecidas.

domingo, 14 de novembro de 2010

O nome Jacobino


jacobino

O termo jacobino surge durante a Revolução Francesa atribuído aos membros de um grupo político republicano com sede no antigo convento de jacobinos (nome dado a religiosos dominicanos de um convento da Rue de Saint-Jacques, em Paris, que em latim se dizSanctus Jacobus). Mais tarde, e por extensão, passa a significar membro de um partido dito democrático, frequentemente inimigo da religião.
O clube dos jacobinos surge no palácio de Versalhes, com um pequeno grupo de deputados mais esclarecidos. Designa-se de clube bretão, por ser da Bretanha o seu principal núcleo. Com a mudança da Assembleia Constituinte para Paris, em Outubro de 1789, este grupo encontrou uma sede no Convento dos Jacobinos na Rua Saint-Honoré e embora se designasse Sociedade dos Amigos da Constituição, os seus membros passaram a serem conhecidos por jacobinos. Na confusão reinante, após o colapso da Monarquia, começaram a surgir diversos movimentos e comités a pretenderem controlar o poder. Aí surge a tirania revolucionária de Robespierre e dos defensores da "Virtude pelo Terror".
Os jacobinos politicamente representavam os sans-culottes (os pobres, assim chamados por não usarem, como os nobres, os calções curtos com meias), e pequena burguesia. Depois de aceitarem a monarquia constitucional e após a fuga do rei, tornaram-se ardorosos defensores de uma república revolucionária.
Os anos de 1793-1794 representam a fase mais trágica do período revolucionário. São os anos de terror, das perseguições religiosas e da guilhotina com mortes no cadafalso, da entronização da "Deusa Razão" na catedral de Notre-Dame de Paris.

sábado, 13 de novembro de 2010

Nova Águia nº 6 dedicada aos 100 anos da Républica


Neste número, onde fazemos o balanço dos 100 anos da República, reunimos cerca de três dezenas de textos, que, uma vez mais, nos chegaram dos mais diferentes lugares do espaço lusófono, de insignes personalidades da nossa Cultura. Como sempre, as perspectivas são diversas, mas, em todas elas, se sente, em maior ou menor medida, um travo de insatisfação – sinal de que a promessa republicana, 100 anos após a sua instauração, está ainda muito longe de poder ser dada por cumprida. Como defenderam os nomes maiores da Renascença Portuguesa, a República não se cumpriria pela mera substituição do Chefe de Estado – de Rei hereditário para Presidente eleito. Muito para além disso, a República, para a geração da Renascença Portuguesa, era uma promessa de maior alcance, em prol da constituição de uma verdadeira Comunidade. 100 anos após a instauração dessa promessa, verificamos que ela ainda não se cumpriu. Mas não ficamos pela mera lamentação, como, infelizmente, é costume entre nós. Antes abrimos horizontes para que essa tão generosa promessa se possa finalmente cumprir, também aqui seguindo o exemplo das pessoas da Renascença Portuguesa: pessoas que tinham um amplo e profundo sentido da Cultura, que incluía – diríamos mesmo: que exigia – um forte empenhamento social e político, ainda que não necessariamente partidário.

Para além de evocarmos o Centenário da República, quisemos, neste número, assinalar quatro efemérides: o bicentenário do nascimento de Alexandre Herculano; o centenário do nascimento de Miguel Reale; o cinquentenário do falecimento de Jaime Cortesão; o ano da morte de António Telmo, colaborador da NOVA ÁGUIA desde o primeiro número, que nos deixou no dia 21 de Agosto. Uma vez mais, a NOVA ÁGUIA celebra, de forma assumida e descomplexada, os nomes maiores da nossa Cultura.

A par das rubricas habituais, houve ainda espaço, neste número, para regressarmos ao tema da Europa, numa secção em que se destaca um texto de Dalila Pereira da Costa, igualmente colaboradora desta revista desde a primeira hora.

Como tem acontecido a propósito de todos os números da NOVA ÁGUIA, também este será apresentado por todo o país e, na medida do possível, por todo o espaço lusófono. Realizaram-se já, ao todo, duas centenas de sessões de apresentação da NOVA ÁGUIA. Neste último semestre, destaque-se o facto de termos chegado ao Bairro Português de Malaca.

O tema do próximo número, a sair no primeiro semestre de 2011, será «Fernando Pessoa: "Minha pátria é a língua portuguesa" (nos 15 anos da CPLP)». Nele procuraremos, a partir da obra pessoana, pensar o presente e o futuro da Comunidade Lusófona, numa perspectiva aberta ao mundo. Essa tem sido sempre, como se sabe, a visão distintiva da NOVA ÁGUIA.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

As Pequenas Memórias, um livro humilde e belo



Em parceria com a LeYa, a revista Sábado lançou em banca, no dia 11 de Novembro, a obra «As Pequenas Memórias», publicada pela Caminho. A iniciativa será uma homenagem ao escritor, que cumpriria o seu aniversário no dia 16 de Novembro. O livro terá um preço de 6,95€ dos quais 0,50€ reverterão a favor da Fundação José Saramago.


«As Pequenas Memórias» é um livro de recordações que abrange o período entre os quatro e os quinze anos da vida de José Saramago. O autor tinha «As Pequenas Memórias» na cabeça há mais de 20 anos, por isso a altura para o escrever era esta: «Queria que os leitores soubessem de onde saiu o homem que sou».

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Fernando Savater - “A ESCOLA NAO É DEMOCRÁTICA. NEM DEVE SÊ-LO. A ESCOLA É A PREPARAÇÃO PARA A DEMOCRACIA”



“A ESCOLA NAO É DEMOCRÁTICA. NEM DEVE SÊ-LO. A ESCOLA É A PREPARAÇÃO PARA A DEMOCRACIA”

Em Espanha é uma voz sensata, um líder de opinião que muitos inspira. Esteve em Portugal para falar de educação e da necessidade de uma revolução profunda Entrevista Cristina Margato m Espanha é quase uma figura pop. Não só pela sua atividade política no ¡Basta Ya! (movimento de cidadãos contra o terrorismo), como pelas suas crónicas no “El País” desde a fundação do jornal. Foi também fundador do partido “Unión Progreso y Democracia”. A entrevista comprovou-o. Fomos várias vezes interrompidos por turistas espanhóis que estavam decididos a não voltar para casa sem uma fotografia ao lado dele. Fernando Savater (San Sebastián, 1947) tem inúmeros livros, alguns mais polémicos do que outros, e é muitas vezes apresentado como filósofo. Ele, porém, prefere apresentar-se como Professor de Ética: um educador, portanto, que esteve em outubro em Lisboa e Faro, a convite da Fundação Francisco Manuel dos Santos, para falar nas Conferências da Educação que o professor Nuno Crato organiza. E Fala na necessidade de uma revolução, que deve começar pela educação. Em concreto, o que tem de mudar? Defendo a criação de uma disciplina de Educação Cívica que introduza a capacidade de agir em democracia, Deve haver uma preparação que forme cidadãos capazes de utilizar os mecanismos da democracia. Não se pode esperar que a televisão faça isso. Em Portugal, o ensino público, prevê, desde o básico, a disciplina opcional de Religião e Moral. Nalguns casos, o programa esta orientado para cidadania, embora enraizado nos valores católicos. Em Espanha, isso aconteceu durante a ditadura. Mas era obrigatório. Com a democracia passaram a existir duas disciplinas: Religião ou Moral/Ética. O meu livro “Ética para um Jovem” (Dom Quixote, 2005) pretendia servir como alternativa à religião. A ética é para todos. Não é exclusiva dos religiosos. Logo, essa opção parece-me um grande equívoco. Deixa de fora os laicos e as restantes religiões. Como a sociedade democrática deve ser laica, não há razão que justifique a presença da religião católica na escola pública. A religião é um assunto privado, que deve ficar na sinagoga, na paróquia, na mesquita. Deveria extinguir-se a disciplina, mesmo opcional? Sim. Sem dúvida. Poderia existir uma disciplina de Ética mais filosófica e uma de Ética Cívica. A partir de que idade? Tudo se pode explicar desde que a linguagem seja adequada à idade. Aos seis anos já pode ter uma disciplina assim. Se a escola estivesse organizada em ambiente democrático, os estudantes não poderiam aprender a cidadania pelo exemplo e prática? A escola não é democrática. Nem deve sê-lo. A escola é a preparação para a democracia. Uma aula é hierárquica. O professor está sempre acima dos alunos. A escola deve estar a preparar os jovens para ser cidadãos. A escola não tem os mecanismos da democracia nem deve ter. O modelo atual também já não é ditatorial. A escola vive em estado de crise. A escola sempre viveu em crise. Os escritores do século XVIII já falavam nessa crise. A escola anda sempre atrás da sociedade, na medida em que os professores foram educados no passado e tem de educar para o futuro. Essa crise é a da sociedade. As pessoas que transmitem conhecimento, e preparam o futuro, vêm do passado, e eles próprios estão a lutar para se colocarem à altura da sociedade em que vivem. Em Portugal, os professores já perderam as suas defesas.Em Espanha, e noutros países europeus, aconteceu o mesmo. Há uma teoria, uma tendência, que iguala os professores aos alunos e que faz com que os professores percam o respeito dos alunos. Convencionou-se que o professor tem de inspirar respeito dentro da aula. Ora, se o professor tem tanta autoridade como o aluno a aula não funciona. Fez o prefácio do “Panfleto Anti-Pedagógico” de Ricardo Moreno Castillo, onde ele defende um modelo de professor mais autoritário e, logo, mais antigo. Moreno Castillo defende um modelo de professor que seja possível dentro de uma sala de aula. As aulas não são uma reunião de amigos nem um recreio. São um lugar onde se transmite conhecimento. Toda a gente aceita e entende que um treinador de futebol dê ordens aos seus jogadores. Já o mesmo modelo numa escola parece que começou a ser (erradamente) entendido como algo escandaloso. Sublinha a crescente influência maléfica dos ignorantes no rumo da democracia. O problema é que numa democracia todos somos políticos. Não há uns especialistas que mandam e outros que são guiados. Logo, todos temos de ter algum conhecimento para poder intervir na sociedade. Se a maioria é completamente ignorante não pode argumentar nem entender a argumentação. Há que evitar essa situação e aumentar o nível médio de conhecimento para que todos possam intervir com competência. E não cair na facilidade do discurso demagógico... Um ignorante segue sempre o que é prometedor. As pessoas que não têm conhecimentos sobre nutrição preferirão sempre quilos de alimentos mais saborosos, embora com efeitos nocivos para a sua saúde. Se der a uma criança uma sopa nutritiva ou um prato de doces, ele escolherá o prato de doces, porque não sabe que lhe faz mal. Isso também acontece à escala dos adultos. Se um político promete o céu e a terra, de uma forma inverosímil mas atrativa, e outro exige sacrifícios de forma realista, para conseguir um país mais forte para todos, os ignorantes obviamente preferirão o primeiro. Tem alguma ideia de qual é a representação percentual dessa massa de ignorantes numas eleições? Não sei determinar. Mas o sintoma mais alarmante dessa ignorância pode ser medido nas televisões. Em Espanha, os programas de debate discutem os amores de fulana e beltrano. Há uma mulher em Espanha que é um fenómeno mediático. É famosa apenas pela sua ignorância cósmica e por dizer os maiores disparates. No entanto, uma sondagem feita numa rádio determinou que muitos espanhóis votariam nela para primeira-ministra. Na sequência disto, a rádio ligou-me para opinar sobre o assunto. “Vocês acreditariam que os mesmos espanhóis votariam nela para treinadora da seleção nacional?”, perguntei. E a resposta que obtive foi: “Não, claro que não! O lugar de treinador da seleção é um posto demasiado sério!” Ou seja, quando falamos de coisas sérias falamos de futebol, e quando falamos de política tudo é possível. Este tipo de degradação do discurso é muito grave; e esse é o problema. Também diz muito dos políticos ou da perceção dos políticos.Os políticos somos todos nós. Se os políticos que ocupam os cargos são incompetentes, somos nós que os elegemos, e fomos nós, que apesar de acreditarmos que podemos ser melhores do que eles não nos oferecemos para o lugar deles. Os políticos não são seres de outro planeta que desceram à terra para nos dificultar a vida. ___________________________________________________________________ Fernando Savater entrevistado pela revista ATUAL[Expresso30. 10. 201 0]

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Geografia dos Ritmos





Foi com prazer que orientei no passado Sábado o workshop de percussão" Geografia dos Ritmos",workshop para miúdos e graúdos concebido por mim. O ritmo pode de facto ser em enorme oceano de entendimento.





O Quarteto actuou na passada sexta feira no Grande Hotel Real Vila Itália em Cascais. Como sempre, fomos muito bem recebidos e foi um enorme prazer tocar um repertório de grandes temas do Jazz clássico.

Vergílio Ferreira um escritor eterno.




«Sento-me aqui nesta sala vazia e relembro. Uma lua quente de verão entra pela varanda, ilumina uma jarra de flores sobre a mesa. Olho essa jarra, essas flores, e escuto o indício de um rumor de vida, o sinal obscuro de uma memória de origens. No chão da velha casa a água da lua fascina-me. Tento, há quantos anos, vencer a dureza dos dias, das ideias solidificadas, a espessura dos hábitos, que me constrange e tranquiliza...»

"Vergilio Ferreira in Aparição "