terça-feira, 19 de novembro de 2013

Air - Johann Sebastian Bach

Pachelbel - Canon In D Major. Best version.

Nocturno - Chopin

Beethoven Moonlight Sonata (Sonata al chiaro di luna)

Kipling










Romancista, contista, cronista, jornalista e poeta inglês; nasceu na Índia, em 1865, foi educado por pais adotivos e estudou em um internato na Inglaterra, retornando mais tarde à terra natal como jornalista (1882-9).




Entre suas coletâneas de artigos e poemas está "Simples Contos das Colinas" (1888), que descreve os costumes de indianos e ingleses. Muitos de seus contos revelam preocupação com a crueldade e o sobrenatural. São conhecidos seus contos que mostram os costumes indianos e o choque de cultura com o Império Britânico, como em "O Homem que Queria ser Rei" e seus contos sobrenaturais, como em "Minha Própria História de Fantasmas".



Considerado 'o poeta do Império', seus conceitos se refletiram em poemas bastante conhecidos, como "Mandalay", "Gunga Din" e "Se". Grande parte da sua melhor poesia aparece em " As Baladas da Caserna", publicado em 1892. As obras infantis Stalky & Co. (1899); os dois Livros da Selva (1894), sobre Mowgli, um menino criado entre lobos; "Just so Stories" (1902) e "Puck of Pook's Hill" (1906) continuam populares, bem como sua obra-prima "Kim" (1901), sobre as aventuras de um garoto inglês órfão entre os povos e costumes do noroeste da Índia.



Romancista, contista, cronista, jornalista e poeta inglês; nasceu na Índia, em 1865, foi educado por pais adotivos e estudou em um internato na Inglaterra, retornando mais tarde à terra natal como jornalista (1882-9).




Entre suas coletâneas de artigos e poemas está "Simples Contos das Colinas" (1888), que descreve os costumes de indianos e ingleses. Muitos de seus contos revelam preocupação com a crueldade e o sobrenatural. São conhecidos seus contos que mostram os costumes indianos e o choque de cultura com o Império Britânico, como em "O Homem que Queria ser Rei" e seus contos sobrenaturais, como em "Minha Própria História de Fantasmas".



Considerado 'o poeta do Império', seus conceitos se refletiram em poemas bastante conhecidos, como "Mandalay", "Gunga Din" e "Se". Grande parte da sua melhor poesia aparece em " As Baladas da Caserna", publicado em 1892. As obras infantis Stalky & Co. (1899); os dois Livros da Selva (1894), sobre Mowgli, um menino criado entre lobos; "Just so Stories" (1902) e "Puck of Pook's Hill" (1906) continuam populares, bem como sua obra-prima "Kim" (1901), sobre as aventuras de um garoto inglês órfão entre os povos e costumes do noroeste da Índia.



Sua produção jornalística incluí crônicas sobre as guerras européias, relatos de viagens, e cartas pessoais, destacando-se "Notas Americanas" e "Crônicas do Brasil", este último publicado postumamente.



Foi o primeiro inglês a receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1907. Após a Primeira Guerra Mundial, sua produção literária diminui em virtude do trauma da perda de seu filho neste conflito. Falece em 1936, estando enterrado no Canto dos Poetas da Abadia de Westminster em Londres.
Sua produção jornalística incluí crônicas sobre as guerras européias, relatos de viagens, e cartas pessoais, destacando-se "Notas Americanas" e "Crônicas do Brasil", este último publicado postumamente.



Foi o primeiro inglês a receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1907. Após a Primeira Guerra Mundial, sua produção literária diminui em virtude do trauma da perda de seu filho neste conflito. Falece em 1936, estando enterrado no Canto dos Poetas da Abadia de Westminster em Londres.

O Tambor de Gunter Grass










O Tambor - Gunter Grass

“O Tambor” é a história de Óscar, um jovem que a vida fez anão, disforme e desprezado, na cidade de Danzig, a moderna Gdansk. Óscar, internado num hospital psiquiátrico após a segunda guerra mundial narra a história da sua vida, desde o nascimento no meio rural da Alemanha dos anos 20, até que a loucura da humanidade se confunda com a dele próprio e o encerre com os grilhões da normalidade. Nesse cárcere final Óscar revive o passado como se fosse o tambor a contar-lhe a história; na verdade, ele confunde-se com o próprio tambor que o acompanhou durante toda a existência. Ao longo da obra, Grass coloca várias vezes o tambor a falar na primeira pessoa, confundindo-se ele próprio com o personagem principal.

À medida que Óscar vai tocando tambor, vai-se apercebendo que ele se torna um instrumento de poder, como a flauta de Hemlin. É ele que faz o povo chorar, como a cebola que se descasca. É a ele que o povo segue, como os ratos seguem o flautista. É a sátira ao poder mas, principalmente à fraqueza de espírito de um povo despersonalizado, anónimo e apático. É a crítica à indiferença do cidadão comum perante as atrocidades da guerra. Óscar simboliza essa massa anónima que “toca tambor” enquanto a matança prossegue.

Óscar é um personagem frio, completamente imune a qualquer sentimento, exptuando o amor pela mãe. Pormenor marcante da narrativa: Óscar entrega o pai adoptivo, bem como o pai verdadeiro às tropas nazis sem qualquer piedade. A sua aparente loucura não é mais do que uma estratégia de sobrevivência.

Num mundo marcado por uma guerra em que se matam freiras que se confundem com franceses, e que perante as atrocidades de Hitler um povo toca tambor, o surreal emerge da superfície real das coisas. E a vida sobrevive, o sentido das coisas passa apenas por aquilo que está “à mão”, nada mais interessa; nem a Pátria, nem a família nem qualquer Deus. Tudo vive ao ritmo do tambor.

Ao longo de toda a obra, Grass deixa bem vincada a sua mordacidade, a sua escrita quase cínica, em busca do grotesco que emerge da vida. Toda a realidade se confunde com o grotesco e o fantástico, sem nunca sair da mais banal sobrevivência quotidiana. Por todo o lado, o sofrimento, mas um sofrimento normal, habitual, como se a vida não tivesse sentido sem esse sofrer. Nem que seja preciso descascar cebolas para chorar ou maltratar uma mulher para a amar. O sofrimento caminha sempre lado a lado com a vida e a felicidade. Publicada por Manuel Cardoso

Entrevista com o Dr. Sergio Niza para a revista Camine -bloco 1/2

Entrevista com o Dr. Sergio Niza para a revista Camine -bloco 2/2

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Albert Camus





O autor, jornalista e filósofo francês faria hoje cem anos. Morreu em 1960, sem aviso mas a tempo de deixar obra ímpar e de ser distinguido com o Nobel da Literatura. Recordamos dez lados de Albert Camus

O Professor



Se não fosse Albert Camus, provavelmente não saberíamos nada sobre Louis Germain. Mas o contrário também é verdade: sem Louis Germain, mestre-escola do pequeno Albert, provavelmente o mundo não teria chegado a assistir ao triunfo literário de Camus. Foi graças ao incentivo de Germain que Camus, uma criança oriunda de uma família bastante pobre, pôde prosseguir os seus estudos. O escritor nunca esqueceu a importância do professor, a quem dedicou o discurso de aceitação do Prémio Nobel, em 1957. Ao longo dos anos, Camus manteve o contacto com este homem, a quem disse, em carta datada de 1945, que “era um dos dois ou três homens a quem devia praticamente tudo”. Órfão de pai – morto na Grande Guerra –, Camus projectou em Germain a figura paterna, que na sua obra desaparece para dar lugar à mãe.



A Mãe



Eram estas as dez palavras preferidas de Camus: mundo, dor, terra, mãe, homens, deserto, honra, miséria, Verão, mar. De todas, “mãe” será a mais importante. Sobretudo por uma ainda hoje polémica resposta do escritor a uma questão de um estudante argelino, em Estocolmo, quando recebeu o Prémio Nobel. Nessa altura, questionado sobre a justiça da luta pela independência do povo argelino e o terrorismo contra civis, Camus respondeu que acreditava na justiça, mas que poria sempre a sua mãe em primeiro lugar. Muitos acusaram-no de preterir o universal em favor do pessoal, denunciando o carácter antikantiano da sua frase. Mas nesta escolha – controversa, é certo – vê-se igualmente um imperativo ético em acção, erguer uma barreira contra a violência bem-intencionada e que tantas vezes descarrilou para a barbárie. Vê-se, em suma, o humanismo radical de Camus.



Guarda-Redes



Uma das características fascinantes da personalidade de Camus é uma aparente simplicidade sob a qual se oculta uma mente inquieta e exigente. Se, de certa forma, essa característica se plasma na sua escrita – límpida e dura, sem ornamentos desnecessários, ao serviço de um pensamento claro e profundo – é na sua vida que ela se manifesta com mais pujança. Em comparação com outros intelectuais da altura, muito dados a abstracções e a conceitos ideológicos impostos à realidade, Camus tinha a vantagem de ser um filho legítimo do povo. Nada ilustra melhor essa condição genuína que o facto de, ainda na Argélia, Camus ter sido guarda-redes de um clube de futebol universitário. Como escreveu Michel Winock, Camus “não tem de descer ao povo porque faz parte dele”.



A Imagem



A importância da imagem no culto camusiano não deve ser desprezada. Quando Camus visitou os Estados Unidos, a propósito da publicação da edição norte--americana de “O Estrangeiro”, a comunicação social não hesitou em compará--lo com Humphrey Bogart, criando a imagem duradoura do existencialista cool. De facto, ainda hoje Camus beneficia desta aura de sedutor sereno, sendo visto como uma espécie de detective elegante dos meandros da existência e das complexidades filosóficas. A morte precoce, quando tinha apenas 46 anos, num acidente de viação, apenas reforçou a dimensão quase cinematográfica do mito: o de um homem que personificava a aliança perfeita entre um pensamento encantador e um aspecto inteligente, o equilíbrio alquímico entre moral e rebeldia.



O Estrangeiro



“Hoje a mãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem.” As duas primeiras frases de “O Estrangeiro” estabelecem de imediato um tom de indiferença e de alienação que, a par de certas imagens de Kafka, é provavelmente o mais perto que a literatura do século xx esteve do absurdo da existência. Aqui a questão não é ver o homem soçobrar perante o peso da sociedade moderna (o trabalho repetitivo, a solidão das metrópoles, etc.), mas ter de lidar com uma angústia mais ancestral, primitiva, básica; a angústia que está no cerne das grandes questões filosóficas e religiosas. Sartre disse que o título poderia ser “Nascido no Exílio” (tomado de empréstimo de um outro livro) e a expressão não podia ser mais exacta para resumir uma obra que, por sua vez, é um resumo da condição humana e de todo o desespero feliz e cheio de esperança que nela existe.



O Jornalista



A faceta jornalística de Camus não contém em si nada de surpreendente. Aí vemos o mesmo homem exigente, a professar uma moral que não é moralista, uma moral prática que ele desejava ver corporizada numa classe de jornalistas independentes e comprometidos (que “tomam partido” sem se tornarem “partidários”, cf. “O Século dos Intelectuais”). Entre 1943 e 1947, Camus, enquanto chefe de redacção do “Combat”, um dos muitos jornais de esquerda da época, apontou o caminho para um jornalismo emancipado do poder do dinheiro e que assumisse a sua vocação de farol cívico. Com o fim da guerra, o jornal foi perdendo influência, numa altura em que o próprio Camus já estava mais disposto a investir na sua carreira como escritor e como editor na Gallimard. No entanto, a lição da sua intransigência ética é um bem precioso que todos os jornalistas devem ter presente.



A Personagem



Uns talvez se lembrem do Dr. Bernard Rieux, de “A Peste”, outros não hesitarão em escolher o anti-herói Meursault, de “O Estrangeiro”. Jean-Baptiste Clamence, o juiz-penitente de “A Queda” não é uma má escolha e, se a opção for menos óbvia, talvez se possa indicar a presença fantasmagórica da mulher de Rieux. No entanto, para um aspirante a escritor, a personagem mais marcante de Camus tem um papel secundário em “A Peste”: Joseph Grand, o funcionário municipal e escritor nas horas vagas que não consegue passar da primeira frase do romance perfeito que quer escrever. Grand procura atingir a perfeição sonora, o equilíbrio polido da forma, um significado profundo e, com tão elevada fasquia, nunca consegue completar essa frase impossível.



Camus vs. Sartre



E pensar que tudo começou numa agradável troca de elogios e vénias literárias, que, porém, já continham as sementes da acrimónia futura. Apesar da extensa e elogiosa crítica que Sartre dedicou a “O Estrangeiro”, em 1943, Camus, com a sua perspicácia mediterrânica, notou logo ali um “tom ácido”. Mas as coisas iriam piorar. Já depois da guerra, os dois amigos afastaram-se, assumindo posições diferentes em relação ao comunismo: Camus mais crítico com Moscovo, Sartre mais entusiasmado com o regime soviético. Camus viria a receber o Nobel antes de Sartre, que, em 1964, recusou o prémio com o argumento de que um escritor não se devia tornar “uma instituição”. Se não uma instituição, Sartre tornou-se pelo menos uma estrela da intelectualidade de esquerda, mas hoje em dia é Camus quem recolhe os louros literários.



Críticas



A obra de Camus já sofreu várias tentativas de diminuição pública. A mais comum é a que procura obliterar os méritos literários da obra justificando o seu sucesso, a devoção dos leitores, unicamente com o fundo moral da mesma, transformando o autor numa espécie de promotor de um culto laico do qual ele seria o santo padroeiro. Sem dúvida que a obra de Camus não recusa a questão moral (não confundir com moralismo), mas não só o próprio rejeitava esse papel de profeta laico como a clareza do seu estilo, em vez de ser apontada como uma insuficiência, tem de ser entendida como uma afirmação simultaneamente ética e estética. Sontag podia dizer, com alguma petulância, que “não há em Camus nem arte nem pensamento de altíssima qualidade”, mas quando relemos “A Peste” ou “O Estrangeiro” ficamos com a certeza de que nenhum outro escritor moderno se aproximou tanto do coração do homem, do seu centro moral.



Defensores

“A grandeza de Camus consiste em ter unido uma ética inflexível a uma inexaurível capacidade de felicidade, de viver a fundo a vida, como um baile popular ou um dia de sol à beira-mar, até na sua tragicidade enfrentada sem rebuço, recusando qualquer moral que reprima a alegria e o desejo. Camus tem um sagrado, religioso respeito pela existência, o qual o impede de qualquer transcendência, metafísica ou política, que pretenda sacrificá--la a fins superiores.” Num dos textos de “Alfabetos”, o escritor italiano Claudio Magris mostra, em poucas linhas, que a dimensão humana de Camus não era apenas retórica, mas uma força viva que se manifestava na sua prática literária e jornalística. Por sua vez, o filósofo espanhol Fernando Savater sossega-nos quanto a eventuais receios de um reencontro com a obra do escritor francês: “Camus não tem uma única ruga. Mais nosso que nunca: mais equânime, mais valente, mais tonificante e lúcido que nunca.”

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Arthur Danto




Morreu Arthur Danto, o inventor do mundo da arte

Por Vanessa Rato e Luís Miguel Queirós

27/10/2013 - 14:01



Entre os mais influentes críticos e teóricos da arte da segunda metade do século XX, Danto morreu aos 89 anos





Danto publicou no início do ano o seu último livro, "What Art Is" DR

. 1 .TópicosArtes

FilosofiaFez-nos voltar a pensar sobre o fim da arte, mas, de certa maneira, foi ele que inventou o "mundo da arte", ao cunhar, em 1964, a expressão "artworld". O filósofo, crítico e ensaísta norte-americano Arthur C. Danto morreu este sábado. Tinha 89 anos.



Professor emérito da Columbia University, em Nova Iorque, Danto foi presidente da American Philosophical Association e da American Society for Aesthetics. Esteve entre os 120 académicos e filósofos que em 1973 assinaram o segundo Manifesto Humanista. No princípio do ano publicou a sua última obra, What Art Is, um apanhado do pensamento que foi desenvolvendo ao longo dos últimos 50 anos do seu percurso.



Nascido em Ann Arbor, no estado de Michigan, em 1924, Danto estudou arte, história e filosofia em universidades americanas, tendo recebido uma bolsa que lhe permitiu prosseguir os seus estudos na Paris do pós-guerra.



Conhecido pelos seus trabalhos nos campos da estética e da filosofia da história, e ainda pela sua inesperada carreira como crítico de arte na revista The Nation, cargo que aceitou quando tinha já 63 anos, Danto interessou-se por vários outros domínios, da filosofia da acção às teorias da representação, e dedicou estudos importantes a filósofos como Hegel, Nietzsche ou Schopenhauer.



Tinha 40 anos quando, em 1964, publicou, no Journal of Philosophy, o ensaio The Artworld, no qual propunha o conceito de "mundo da arte", que definia como o contexto cultural e histórico no qual uma obra de arte é criada. O texto teve uma considerável influência no filosofia da arte, e em particular na teoria institucional da arte, do filósofo George Dickie, que recusa as teorias essencialistas e propõe que um artefacto é uma obra de arte quando o mundo da arte e as suas instituições lhe atribuem esse estatuto.







O fim da arte



A partir de meados dos anos 1980, o tópico do "fim da arte" torna-se central na obra de Danto. Não se trata de vaticinar o esgotamento da criação artística, mas, antes, o final de uma certa história da arte ocidental. Em After the End of Art (1997), afirma que a arte começou com "uma era de imitação, seguida de uma era de ideologia, seguida pela nossa era pós-histórica", na qual a obra de arte já não enfrenta "quaisquer constrangimentos estilísticos ou filosóficos".



Danto não pretende afirmar que já não se faz arte ou que a que se faz não é relevante. Defende é que as grandes rupturas conceptuais iniciadas nos anos 60 do século XX – com a arte pop, o minimalismo, o conceptualismo – levaram a uma situação em que "as obras de arte podem parecer seja o que for, incluindo objectos perfeitamente triviais". Nesta situação de liberdade criativa total, o papel do artista, diz Danto, "é filosofar através de meios visuais, usando todos os recursos que lhe pareçam adequados". Do mesmo modo, o crítico deve lançar mão de "tudo o que o possa ajudar a atingir uma interpretação inteligível" do que o artista pretendeu fazer.



Este "fim da arte", reconhece Danto, foi admiravelmente intuído pelo filósofo Theodor W. Adorno, que escreveu: "É uma evidência que nada do que respeita à arte é ainda hoje evidente, nem a sua vida interior, nem mesmo o seu direito a existir". Mesmo sabendo que, em Adorno, esta constatação é "um grito de desespero cultural", Danto credita-lhe "o mérito de ter intuído as transformações" a que ele próprio depois chamará "o fim da arte".







quinta-feira, 24 de outubro de 2013

27 Out 2013 - 14:00 às 19:00




Pequeno Auditório



Entrada Livre



«António Lobo Antunes (1942) afirma-se como um ávido revelador do que a vida sistematicamente esconde. Para além do superficial dos acontecimentos, o romancista recorda, invoca, interpreta, aventura-se no próximo, no incerto e no desconhecido. E vêm à memória amigos, desaparecidos, mas presentes, como José Cardoso Pires e Ernesto Melo Antunes… A vida entretece-se de amizades. Harold Bloom fala misteriosamente de “one of the living writers who will matter most”. George Steiner considera-o como “heir to Conrad and Faulkner”. O certo é que a sua escrita atrai, porque é inusitada e pertinente, luminosa e obscura. Que é a vida senão um mundo de contradições? Quaisquer elogios passageiros nunca permitirão entendê-lo. Um dia disse: “Quando lemos um bom escritor é para nos conhecermos a nós mesmos”. Essa a grandeza da literatura, a de ser um revelador da existência. É fundamental ler António Lobo Antunes, para quem é insuportável aceitar a mediocridade e ouvir dizer “somos um país pequeno e periférico”…»



Guilherme Oliveira Martins





Programa





15:00 ABERTURA



Guilherme d’Oliveira Martins

Vasco Graça Moura





15:15 A OBRA



Maria Alzira Seixo

Morar no Lume. Imagística do Fogo na temática e construção do romance em António Lobo Antunes.



Agripina Carriço Vieira

Rezas, santos, aparições e outras religiosidades na ficção de António Lobo Antunes.



Norberto do Vale Cardoso

A sombra de António Lobo Antunes: uma luz nas trevas.



Ana Paula Arnaut

A ficção de António Lobo Antunes: o romance no fio da navalha.





16:15 PAUSA





16:45 O ESCRITOR VISTO PELOS SEUS LEITORES



Maria Rueff



Harrie Lemmens

O Rumor dos Passos.



Frei Bento Domingues

Deus e os Direitos de Autor.



17:45 António Lobo Antunes







Em colaboração com o Centro Nacional de Cultura



O DN e a Caixa Geral de Depósitos apoia a programação de Literatura e Humanidades.









quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Jack DeJohnette - drum solo - Modern Drummer Festival 1997

Eduardo Lourenço



A  correspondência amorosa entre Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz é o tema deste texto de Eduardo Lourenço, publicado no JL 1112, de 15 de maio de 2013





Ler mais: http://visao.sapo.pt/eduardo-lourenco-amor-e-literatura=f754289#ixzz2iXigAxTa

Para os admiradores incondicionais de Pessoa, a leitura da sua correspondência com a predestinada jovem com o nome fatídico de Ofélia não é um texto como qualquer outro de Pessoa. Podemos imaginar que na sua perspetiva este episódio único do poeta da "Tabacaria" como pastor amoroso era, ou foi, tão ficcional como todos os outros que subscreveu com o seu nome ou com o dos famosos heterónimos.



A esta última comédia que lhe conferiu uma aura universal designou-a ele como "drama em gente". Mais sofisticado labirinto literário não se conhece. Há mais do que a sombra dele, ao menos do seu lado, nas cartas que trocou com Ofélia, vítima propiciatória da alma múltipla apostada em imitar Deus e ser como ele "tudo de todas as maneiras".



Só que Ofélia não era um seu heterónimo mas uma jovem burguesa de Lisboa dos anos 20, que talvez nunca tenha imaginado que chamou a atenção de Pessoa por ter aquele nome mítico como destino.



E destino lhe foi. Para Pessoa foi antidestino de que só ele conheceu os emaranhados e tenebrosos fios. Tanto mais emaranhados que, logo que se apercebeu que aquele enredo era real e nenhuma ficção o podia desatar sem remorso e culpa, convoca a sua criatura diabólica Álvaro de Campos para se desfazer de um laço que ele próprio criara para ter a ilusão, solitário absoluto, de que podia ter companhia.



Assim introduz no seu jogo de sedução impura a parte tenebrosa de si, o mau da fita, Álvaro de Campos. Jogo de sedução que lembra um pouco o de Kierkegaard, se Ofélia pudesse acompanhá-lo nesse jogo, como Regina Olsen o fizera, por ter luzes e a determinação que a cândida e amorosa heroína shakespeariana à força, muito lusitanamente, não possuía. Em vez disso possuía um coração simples, intuitivo e vulnerável, naturalmente amante, sabendo amar como "o amor ama", como também sabia, mas só como virtualidade, o imortal autor da "Ode à Noite".



Comédia de enganos, anverso de todo o fascínio amoroso? Da sua parte sim e, todavia, não era uma comédia cínica de libertino na alma, apenas a de alguém tão íntimo da noite universal e tão desesperado como raros da linhagem dos danados da terra e abandonados de Deus. No seu caso, consciente disso como todos os filhos de Nietzsche e de Rimbaud, apostados em reinventar "outro sentido" para glorificar uma existência sem ele.



Alguém imagina possível um diálogo, um encontro viável, entre um émulo de Lautréamont e uma jovem burguesinha, no limiar de uma época emancipadora, mas para quem só o casamento canónico era sinónimo de sucesso e felicidade? Da sua "cultura", no sentido habitual, não há nas suas cartas de amorosa transida e cedo dececionada senão os traços de classe dessa época e pouco mais. Já nesse plano é difícil imaginar uma dissimetria mais funda. Um pouco mais velho, o primeiro reflexo de Pessoa é "infantilizar" o objeto do seu "juvenil" e tardio entusiasmo. Mas talvez o que mais surpreenda para quem conhece tão bem as reticências eróticas do autor do Fausto ("O amor causa-me horror, é abandono/ Intimidade...") ou as suas pulsões pouco canónicas (Antinoos) seja, sob a pluma real do autor de Mensagem, a assunção de um Desejo, se não com maiúscula platónica, pelo menos na sua versão comum, provocado pela Vénus urânia que Ofélia parece ter sido para tão visível esfomeado de amor e companhia.



Este ostensivo erotismo, embora brincado e mesmo adolescentemente brincalhão (eterno regresso da alma e do corpo à infância de onde emergiu?), surpreendeu e continua a surpreender, menos pela sua óbvia assunção que pelo contraste com a mitologia do Desamor que foi para o poeta a única musa e música a que votou a sua demoníaca (e diviníssima) adoração. O que no espaço da pura virtualidade, que é por essência o da Poesia (de todas e não só a dele, Eróstrato de si mesmo), se celebra e se esconde ao mesmo tempo ("Meu ser vive na Noite e no Desejo.







/ Minha alma é uma lembrança que há em mim") é, quanto muito, misticismo amoroso em torno do "esplendor nenhum da vida".



Nessas cartas inimagináveis para quem já era o poeta da "Ode Marítima" ou do oitavo poema do "Guardador de Rebanhos", onde a sua "verdade" erótica se exprime em litanias infantis, cheias de "inhos e beijinhos". Mimetismo sacrificial da ternura autêntica vivida à sua altura pela tão pouco celeste mas comovente e desencantada Ofélia, mais destinada a heroína antiga como Efigénia que a vítima sarcástica de um super Hamlet redivivo? Este abismo (escrito) entre a expressão amorosa de Ofélia, vampirizante como todas, e o vampirismo de segundo grau que é o de Pessoa, desta vez nu e sem máscara, na medida em que o podemos conceber como oposto do que desde a infância o elegeu diferente, Narciso cego perdido na sua Noite como essência do mundo e nós nele, surpreendeu e escandalizou aqueles que mais precocemente se viram confrontados com aquilo que o seu biógrafomo, João Gaspar Simões, designou de "enigma de Eros". E que aqui, na correspondência, em vez de solução, conhece uma espécie de metamorfose sem redenção. Para ambos os protagonistas, mas de diversa e oposta versão.



No plano do banal fait-divers tratou-se de um encontro/desencontro entre dois seres predestinados para nunca se encontrarem e, uma vez encontrados, cada um deles vivendo, um na plena e redentora ilusão de se saber amado - miticamente "para sempre" -, e outro num mundo alheio, insuspeitado da ingénua Ofélia, tão perspicaz na ordem do coração como a Maria do Fausto mas, como ela, votada à desilusão por quem há muito - quase desde a infância - se via e via a vida -a sua e a da Humanidade inteira - como pura e incontornável Ilusão.







Se Ofélia tivesse lido o menor dos poemas do seu efémero e improvável "namorado" (epíteto que apenas concebido lhe seria insuportável), onde nada se glosa senão a evidência de que a Vida é pura Ficção e a chamada Ficção a única e impensável "verdade" dela, não teria embarcado nessa travessia do coração para um porto que nunca existiu para o companheiro/fantasma dessa viagem sem viajante dentro. A pobre (a rica) Ofélia tinha razão quando o seu estranho colega de escritório vinha ao seu encontro com o seu duplo infernal Álvaro de Campos. O coração não a enganava, que o coração só engana quem o não escuta. Essa comédia -versão lisboeta do famoso Dr. Jekyll e Mr. Hyde - nada tinha de cómico. Se o tivesse conhecido a sério (lendo-o menos distraída) teria sabido a tempo que o espetral Álvaro de Campos era a encarnação mesma da "paixão do fracasso", a que Robert Bréchon se refere com pertinência. E nunca ninguém epitetou melhor o génio de espécie nova que escreveu "Tabacaria". Que provavelmente Ofélia nunca leu.



Em parte alguma Fernando Pessoa está mais ausente de si mesmo, dos outros e do mundo que nestas cartas que têm como palco a espetral cidade de Lisboa, tão viva por fora e tão irreal por dentro com o Poeta jogando o mais sério dos jogos como se fosse o extraterrestre de si mesmo. Todos os leitores conhecem, por ele no-lo ter imposto, o seu mundo de irrealidade sonhada onde desde cedo se refugiou para suportar a insuportável e incógnita realidade do que chamamos Vida.



Mas nunca, como nestas "fingidas" cartas de amor sem fingimento que as resgate por dentro (quer dizer da poesia mesma que tudo redime, mesmo o que não pode ser redimido), no-lo tornam tão estranho de uma estranheza muito diferente da que o tornou único no espaço do nosso imaginário ocidental e não só.



Bem sabemos que num celebérrimo poema brincado, Pessoa, como quem antecipadamente se absolve, glosou o tema do fatal ridículo que seriam as cartas de amor em geral, escritas apenas para o segredo e leitura de quem as escreveu.



E é verdade que à parte as famosas cartas de Mariana Alcoforado, celebradas por Stendhal e que não serão nossas, a nossa epistolografia amorosa conhecida (mal conhecida) não goza de uma reputação muito gloriosa, salvo a que releva de textos em si ficcionais como os do sublime Bernardim ou dos postos por Camilo na boca póstuma da heroína de Amor de Perdição. E, contudo, autênticas e soberbas cartas de amor nossas nada têm de ridículo ou não vivem apenas da paixão sem frases que as elevam acima de si mesmas.







Exemplo insuperável entre nós, as de Garrett a Rosa Montufar, andaluza ardente e refinada.



A deceção (relativa) que todos nós, admiradores quase acríticos de quem escreveu o Livro do Desassossego -monumento sem par à tristeza infinita de não saber ou poder amar -, só nos vem, lendo estas cartas -referimo-nos às de Pessoa, que as de Ofélia de tão cândidas e sentidas não desiludem senão pelo excesso de idolatria sem eco à altura dela -por não reconhecermos nelas aquele fulgor inteligente que distinguiu Pessoa e que aqui brilha menos como eco ou reflexo de um amor ou uma ternura que o submergiu ao menos em certos momentos que por uma espécie de "frieza", ou reticência afetiva, que desde o início se manifesta, como se o demónio da dúvida ou a sua hiperconsciência de si e de tudo cavassem um abismo impossível de atravessar entre ele e o outro.



Robert Bréchon, ecoando David Mourão-Ferreira, sublinhou como convinha e na companhia de outros exegetas de Pessoa, de Ángel Crespo a Leyla Perrone-Moisés, "a impressão estranha" que esta correspondência, destinada a interessar meio mundo por ser de quem é, quase sempre provocou. À parte o contributo nada desprezível que ela representa como uma espécie de diário obcecado e obcecante da vida real do famoso empregado de comércio de Lisboa e da vida lisboeta em pano de fundo, o sentimento de estranheza (de ordem estética, sobretudo?) mantém-se.



São raras as peripécias desse famoso encontro-desencontro, no plano sempre terrífico do único sentimento onde num segundo se joga o destino de uma vida, que nos transportam como o menor verso do Poeta.



Mais significativos, mas não inéditos, são os reflexos de uma certa crueldade sem sujeito que em várias passagens transfiguram essa tão banal (por fora) aventura humana em campo de batalha onde só reina um silêncio pior que a morte. Contudo nós não temos um testemunho mais direto da vivência quotidiana do autor de "Ode Marítima" que este combate íntimo com outro ser que o amou sem Literatura. E sem querer reenvia para a única paixão que assolou Pessoa como vocação e destino, a ponto de lhe sacrificar o que cada um de nós chama "felicidade humana", o monstro sublime da nossa imaginação que nós chamamos Literatura.







Ler mais: http://visao.sapo.pt/eduardo-lourenco-amor-e-literatura=f754289#ixzz2iXhpMGWf

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Uma Visão Armilar do Mundo de Paulo Borges

 
 
 
 
 
 
"Este livro pensa, em diálogo com Camões, Vieira, Pascoaes, Pessoa e Agostinho da Silva, a vocação universal de Portugal: uma convivência planetária, iniciadora... de outro ciclo civilizacional. Uma Visão Armilar do Mundo: a perfeição, plenitude e totalidade da esfera e, nas armilas, a interconexão de todos os seres e coisas, tradições e culturas, artes e saberes. Antes de ser emblema de D. Manuel I, eis toda a fecundidade simbólica da Spera Mundi, esfera e/ou Esperança do Mundo: ao invés do nacionalismo ou patriotismo comuns, a cultura portuguesa e lusófona converteria muros em pontes, fronteiras em mediações, limites em limiares, numa abertura ao universo, a todos os povos, nações, línguas, culturas e religiões. Uma visão integral do mundo, sem cisões, exclusões ou parcialidades. Numa era celebrada como multicultural, a Esfera Armilar surge como paradigma da reinvenção de Portugal como nação de todo o mundo, que vise o melhor para todos, uma cultura da paz, da compreensão e da fraternidade à escala planetária, abraçando a natureza, o homem e todos os seres sencientes" - Paulo Borges, "Uma Visão Armilar do Mundo", 2010.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Um Método Perigoso





Um Método Perigoso

Título original:A Dangerous Method

De:David Cronenberg

Com:Michael Fassbender, Viggo Mortensen, Keira Knightley

Género:Drama, Thriller

Classificação:M/16

Outros dados:EUA, 2011, Cores, 99 min.

Links:Site Oficial

Em 1907, Sigmund Freud (Viggo Mortensen) e Carl Jung (Michael Fassbender) iniciam uma parceria que iria mudar o rumo das ciências da mente assim como o das suas próprias vidas. Seis anos depois, tudo isso se altera e eles tornam-se antagónicos, tanto no que diz respeito às suas considerações científicas como no que se refere às questões de foro íntimo. Entre os dois, para além das divergências de pensamento, surge Sabina Spielrein (Keira Knightley), uma jovem russa de 18 anos internada no Hospital Psiquiátrico de Burgholzli. Com diagnóstico de psicose histérica e tratada através dos recentes métodos psicanalíticos, ela torna-se paciente e amante de Jung e, mais tarde, em colega e confidente de Freud. Isto, antes de se tornar numa psicanalista de renome.

Realizado por David Cronenberg ("eXistenZ", "Crash"), "Um Método Perigoso" é baseado na peça "The Talking Cure", do dramaturgo e argumentista inglês, nascido nos Açores, Christopher Hampton, inspirada na obra de John Kerr. PÚBLICO

Votos dos Leitores



Um Método Perigoso


Título original:A Dangerous Method

De:David Cronenberg

Com:Michael Fassbender, Viggo Mortensen, Keira Knightley

Género:Drama, Thriller

Classificação:M/16

Outros dados:EUA, 2011, Cores, 99 min.

Links:Site Oficial

Em 1907, Sigmund Freud (Viggo Mortensen) e Carl Jung (Michael Fassbender) iniciam uma parceria que iria mudar o rumo das ciências da mente assim como o das suas próprias vidas. Seis anos depois, tudo isso se altera e eles tornam-se antagónicos, tanto no que diz respeito às suas considerações científicas como no que se refere às questões de foro íntimo. Entre os dois, para além das divergências de pensamento, surge Sabina Spielrein (Keira Knightley), uma jovem russa de 18 anos internada no Hospital Psiquiátrico de Burgholzli. Com diagnóstico de psicose histérica e tratada através dos recentes métodos psicanalíticos, ela torna-se paciente e amante de Jung e, mais tarde, em colega e confidente de Freud. Isto, antes de se tornar numa psicanalista de renome.

Realizado por David Cronenberg ("eXistenZ", "Crash"), "Um Método Perigoso" é baseado na peça "The Talking Cure", do dramaturgo e argumentista inglês, nascido nos Açores, Christopher Hampton, inspirada na obra de John Kerr. PÚBLICO

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Alexandre Magno na National Geographic de Outubro

Alexandre e o seu cavalo Bucéfalo num mosaico romano da Casa do Fauno, em Pompeia, datado de 200 a.C.




A batalha de Granico estava no seu momento mais crítico. Frente à cavalaria persa, erguia-se a selva de lanças das tropas macedónicas. O velho Parménio, general experiente, aconselhou Alexandre a não se precipitar numa ofensiva contra as hostes inimigas. Mesmo assim, o soberano arremeteu, temerário, contra os persas, sobre o dorso do seu cavalo. Era então um jovem pujante, que não conhecia o medo. Os seus inimigos reconheciam-no com facilidade devido às longas plumas brancas que adornavam o seu elmo. Combatia sem pensar em si, com paixão e precisão assassina. Pouco depois, um dardo alojou-se numa junta da couraça de Alexandre. Não o feriu, mas o guerreiro ficou desconcertado e dois persas investiram contra ele. Conseguiu esquivar-se do primeiro, enquanto o segundo abordou o cavalo pelo flanco até chegar junto de si, brandindo o machado sobre a sua cabeça. “Rasgou-lhe o penacho e a pluma dos dois lados e, embora o elmo aguentasse o golpe, o fio do alfange tocou nos primeiros cabelos.” Foi com estas palavras que o historiador grego Plutarco descreveu o dramatismo deste episódio decisivo ocorrido no ano de 334 a.C. na sua biografia de Alexandre Magno. Quando o ginete persa se preparava para assestar o segundo golpe, um oficial macedónico chamado Clito, o Negro, antecipou-se e trespassou-o com a lança. Com este gesto, Clito salvou não só a vida do jovem rei macedónico, mas também o seu projecto vital: a conquista e submissão da Ásia.


“Fábula de Veneza”


Por: CARLOS PESSOA





Durante sete dias singulares, Corto Maltese percorre a cidade misteriosa e mágica. Como num sonho, procura a mítica esmeralda conhecida por “Clavícula de Salomão”



“Acontecem coisas inacreditáveis nesta cidade”, diz Corto Maltese, estupefacto por encontrar no seu bolso a esmeralda conhecida por “Clavícula de Salomão”. Ficção ou realidade, pouco importa, porque este é o único epílogo que poderia ter uma aventura como “Fábula de Veneza”, a banda desenhada do marinheiro de Malta que hoje é distribuída com o PÚBLICO.



Numa narrativa que se desenvolve ao longo de sete dias singulares, o italiano Hugo Pratt dá testemunho do seu “amor por Veneza”, impregnando a cidade e os seus habitantes de ocasião com uma atmosfera simultaneamente misteriosa e mágica. Sabe-se a razão sensível que trouxe Corto de novo à cidade — decifrar o enigma contido na carta que lhe foi enviada pelo Barão Corvo, dando supostamente acesso ao paradeiro da mítica pedra preciosa. As pistas semeadas no seu caminho propiciam ao herói uma deambulação só aparentemente errante por Veneza, já dominada pelos fascistas e onde os adeptos das escolas de cunho iniciático — a começar pela Maçonaria — têm cada vez maiores dificuldades em se exprimir livremente.







Com um distanciamento que se tornou a sua inconfundível imagem de marca, o marinheiro não parece levar a sério nada do que acontece, movimentando-se sempre na subtil margem que distingue o real do imaginado e a verdade da efabulação. E, contudo, é bem concreta a perseguição dos homens da “Sereníssima” e dos carabineiros, assim como a queda que coloca Corto Maltese entre a vida e a morte. É, aliás, nesse limbo que ocorre um dos mais belos registos oníricos da banda desenhada traduzidos em imagens.



Tudo o que se passa em “Fábula de Veneza”, publicada pela primeira vez entre 3 de Julho e 23 de Dezembro de 1977 na revista italiana “L’ Europeo”, não terá, afinal, passado de um sonho — não é verdade que o herói acorda de um sonho para entrar noutro e ainda outro, numa sucessão de desvendamentos que não parece terminar? Em todo o caso, é um belíssimo sonho: tem o condão de entreabrir discretamente a janela para uma outra dimensão da realidade que pode sempre ser franqueada. Basta que se queira, afirma Corto Maltese.









quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Batalha de Alcácer-Quibir

O Lugar do Desenho - Julio Resende / caderno de viagens Brasil

27 Out. 2012 // 13 Out. 2013

caderno de viagens
JÚLIO RESENDE
Brasil

Galeria do Acervo
Collection Gallery

Os registos do Brasil são abundantes, deles ressaltando a emanação dos Trópicos como fonte geradora de Vida na harmonia do Homem com a Natureza.



Não estou movido por um sentimento nostálgico, porque situado entre as quatro paredes do atelier, tenho o Brasil no atelier ou onde quer que me encontre... Talvez motivado por uma necessidade de retoma de certo gesto. Já sinto movimentar-se-me a mão numa exaltação luminosa explodindo de alegria, Sim! Eu vira uma criança e um papagaio inundados de luz.



O fascínio do Brasil poderá ser explicado pelos sociólogos para um artista que não busca a explicação, mas o entendimento terá de submeter-se à experiência viva no confronto imediato.



O nordeste brasileiro entrou em mim como um desiderato que o destino quis proporcionar.



Tudo se dá em harmonia, nela participando o baloiçar do coqueiro, o andar da moça e o som da cuíca...



É liberto da carga de muitos conceitos que passo a olhar e a ver o mundo.



Aguarela rápida e inexorável requerendo uma acuidade visual, nem sempre facilitada pelas circunstâncias das condições. Dobrado sobre mim próprio, quantas vezes, o bloco assente no piso, a caixa de aguarelas ao lado, as poeiras que se levantam, ou os insectos insaciáveis que invadem a caixa das aguarelas, para não citar a clareira do sol que abrasa o plano do papel e castiga os olhos, Assim se passa, O documento o esconde, ou talvez o diga...



Tinta da chino e aguarela em festa! Lá estão as tais diagonais, como ressonância do Brasil, para todo o sempre. Génese de uma pintura a óleo que acabou por não acontecer...

A vida é um momento!



É noite. Vindo do extremo da rua deserta, chegam vagos sons de melodias que na praça empedrada fez juntar as pessoas para dar gosto ao corpo até noite alta, Cachoeira adormece…



O Brasil que me tocou foi o do Nordeste e a ele devo uma nova concepção do espaço pictórico, aquele isento de peso físico.



O baloiçar das folhas dos coqueiros, a melodia que chega não se sabe de onde, a fala das gentes, o andar da moça, estão todos na génese destas formas.



A rede, em tudo que é lugar, para o prazer se agarrar ao corpo. O artesão em Olinda faz saltar pedaços de alma ao madeiro e canta uma canção, enquanto a moça sonha na teia de um tapete da memória.

Que tem a ver isto com a pintura que faço?…



No arvoredo em pequeno círculo do traçado urbano, a horas certas, chegam homens sem idade com seus pássaros de estimação em gaiolas artesanais do capricho de cada um.

Nos ramos certos, suspendem as gaiolas, num sorriso todo branco, durante horas para esquecer.

Uns metros adiante tento os meus esboços.



No alto, é um azul que cai ao encontro do rosa que se estende em gradação. Intercepta esta corrida um negro desfeiteando a sua verticalidade. Assim imprime o poder negro num acinte oblíquo. No meio dele o rosa, aqui mais declarado, submete-se à intenção do negro. Isto terá sido, e foi, um homem sentado por terra saboreando uma fatia de melancia. Nada mais prosaico…



Quando o Sol, declina Cachoeira acorda lentamente.

As janelas coloniais abrem-se à aragem fresca e nelas despontam moças segurando pássaros multicolores. Por elas passam outras moças que ali param para confidências amorosas.



Júlio Resende