segunda-feira, 23 de abril de 2012

Agostinho da Silva-Instruir,Educar,Reformados,Camões ePessoa

23 de Março - Dia Mundial do Livro

 Dia Mundial do Livro.



A Fundação José Saramago, que abrirá ao público nos próximos meses em Lisboa, criou uma revista literária digital, intitulada Lucerna, que estará disponível a partir de hoje.



Fonte da fundação explicou que o primeiro número será dedicado à "atual situação do livro", política e mercado livreiro.



Também estarão disponíveis para consulta o original e o caderno de notas de "Claraboia", o romance de juventude que José Saramago deixou inédito até ao fim da vida, tendo sido apenas publicado no final do ano passado.



No Porto, numa iniciativa da Câmara Municipal, são postos a circular nas carruagens do metro 3 livros de grandes dimensões onde as pessoas são convidadas a trocar por palavras os seus pensamentos e as suas ideias, disponibilizando de novo o livro para que outros o façam a seguir.



A livraria Bertrand também vai assinalar o Dia Mundial do Livro e, em Lisboa, propõe que vários escritores portugueses, entre os quais Daniel Sampaio, Isabel Alçada, Leonor Xavier, Inês Pedrosa, Isabel Zambujal e João Tordo, sejam livreiros e aconselham literatura junto dos visitantes.



Em Sintra vai decorrer o programa "Sintra Para Ler" que inclui recitais de leitura, poemas, flash mob, exposições, dramatizações, contadores de histórias, livros digitais.



No Algarve, concretamente em Loulé, realiza-se na Biblioteca Municipal Sophia de Mello Breyner Andresen o espetáculo "Três Contos", pela companhia Ao Luar Teatro.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Como montar um Relógio de Sol

António Pinho Vargas - Dança Dos Pássaros

António Pinho Vargas dia 20 de Abril na Amadora









O duplo álbum «Solo II», do compositor e pianista foi distinguido por unanimidade com o Prémio José Afonso 2010, anunciou a Câmara Municipal da Amadora.
O CD, editado em 2009 e que inaugurou a editora discográfica David Ferreira Iniciativas Editoriais, foi o escolhido de um conjunto de 11 finalistas, cuja lista o júri divulgou pela primeira vez.
Segundo nota da autarquia, foram ouvidos «mais de 150 álbuns editados em 2009» dos quais se selecionou um grupo de 11, tendo sido escolhido por unanimidade o de António Pinho Vargas.
Além do álbum de Pinho Vargas foram pré-selecionados os álbuns «Tarab», dos Danças Ocultas, «Hemisférios» dos Dazkarieh, «Meditherraneos», de Luísa Amaro, «Tasca Beat», dos Oquestrada, «A Guitarra Portuguesa e a Universidade de Coimbra», de Paulo Soares, «Um copo de sol», de Pedro Moutinho, «Em'Cantado», de Rão Kyao, «Luminismo», de Ricardo Rocha, «Mãe», de Rodrigo Leão, e «Matriz», de Tereza Salgueiro.
«O duplo CD 'Solo II' representa um ponto alto na carreira de António Pinho Vargas, autor de uma obra ímpar que admite várias influências, entre as quais a de José Afonso, a quem aliás o pianista e compositor homenageia neste disco através da sua visão muito pessoal do tema 'Que amor não me engana'», justificou o júri.
«À qualidade da música junta-se (…) uma produção e gravação extremamente cuidadas e uma interpretação notável do próprio António Pinho Vargas ao piano», lê-se na ata do júri.
O júri foi constituído pelo vereador da cultura da Câmara da Amadora, António Moreira, pela pianista Olga Prats, pelo compositor Sérgio Azevedo e pela chefe da divisão de Intervenção Cultural da Câmara, Vanda Santos.
Fausto, Vitorino, Dulce Pontes, Filipa Pais, Sérgio Godinho e Mafalda Veiga são alguns dos distinguidos com este galardão que é atribuído anualmente.
O prémio tem como «objetivo galardoar um álbum editado no ano anterior ao da atribuição do Prémio e cujos temas tenham como referência a Cultura e a História Portuguesas», referiu a mesma nota.
António Pinho Vargas congratulou-se com a distinção, sobretudo pelo significado «afetivo», tendo em conta o que representa e representou aquele cantor.
«Em Portugal não há muitos prémios no campo musical, e quando há prémios gerais é raro irem parar a músicos, por isso eu fico muito contente, porque qualquer prémio é um ato de apreço, de reconhecimento e de generosidade por parte de quem o dá», afirmou o músico em declarações à Lusa.
Para o compositor, José Afonso era «um homem atento ao mundo», algo que o compositor também tenta ser.
«O mundo mudou e, se calhar, se [José Afonso] não tivesse morrido tão cedo, as posições dele também teriam mudado. Mas a memória que nós guardamos dele é suficientemente bonita, da música, das letras, do papel que teve do ponto de vista simbólico na luta contra o antigo regime anti-democrático. É-me muito grato ter um prémio que se chama José Afonso», afirmou.
SAPO c/ Lusa

terça-feira, 10 de abril de 2012

O que é a Maçonaria ?









O que é a Maçonaria - Maçonaria em Portugal


A Maçonaria é uma Ordem iniciática e ritualistica, universal e fraterna, filosófica e pregressista, baseada no livre-pensamento e na tolerância, que tem por objectivo o desenvolvimento espiritual do homem com vista á edificação de uma sociedade mais livre, justa e igualitária.A Maçonaria não aceita dogmas, combate todas as formas de opressão, luta contra o terror, a miséria, o sectarismo e a ignorância, combate a corrupção, enaltece o mérito, procura a união de todos os homens pela prática de uma Moral Universal e pelo respeito da personalidade de cada um. Considera o trabalho como um direito e um dever,valorizando igualmente o trabalho intelectual e o trabalho manual.




A Maçonaria é uma Ordem de duplo sentido: de instituição perpétua e de associação de pessoas ligadas por determinados valores, que perseguem determinados fins e que estão vinculadas a certas regras.É Iniciática, porque só pode nela ingressar quem se submeta á cerimónia de iniciação, verdadeiro “baptismo” maçónico, que significa literalmente o começo, e simboliza a passagem das trevas á “Luz”.É ritualista, porque as suas reuniões obedecem a determinados ritos, que traduzem simbólicamente, sinteses e sabedoria, remontando aos tempos mais recuados.É universal e fraterna, porque o seu fim ultimo é a fraternidade universal, ou seja, o estabelecimento de uma única familia na face da Terra, em que os Homens sejam, no seio da Ordem, verdadeiramente irmãos, sem qualquer distinção de raça, sexo, religião, ideologia e condição social.Como escreveu Fernando Pessoa, “a Nação é a escola presente para a Super-Nação futura”.




Amar a Pátria e a Humanidade é outro dos deveres dos Maçons.É filosófica. porque, ultrapassada a fase operativa (coorporações de arquitectos/construtores medievais), transformou-se numa associação de caracter especulativo, procurando responder às mais profundas interrogações do Homem. Conserva contudo, o vocabulário, os utensilios e a simbologia dos pedreiros construtores dos antigos templos.Afinal, o fim último da Maçonaria é a construção de um Homem novo e de uma Sociedade nova. Por isso, todos os seus ritos assentam na ideia de construção e são baseados na geometria, a mais nobre das artes, porque só ela permite compreender a medida de todas as coisas. Assim se justifica que a régua, o esquadro e o compasso continuem a ser instrumentos previligiados do pensamento maçónico.É pregressista, porque visa o progresso da Humanidade, no pressuposto de que é possível um homem melhor numa sociedade melhor. Encurtar as desigualdades e reduzir as injustiças sociais é um dos seus objectivos, através da elevação moral e espiritual de cada individuo. Porém a Maçonaria não é uma instituição política e, muito menos, partidária. Está acima de todos os partidos, coexistindo nela pessoas das mais diversas sensibilidades, crenças e ideologias... A Maçonaria é assim um espaço de diálogo e de tolerância.




A sua influência na Sociedade não se exerce directamente,... mas apenas indirectamente, através do exemplo, da pedagogia e da influência individual dos seus membros nos locais ondem exercem a sua actividade: no emprego, nos partidos, nas organizações cívicas e sociais...É livre pensadora, porque não aceita dogmas, pratica a tolerância e respeita a liberdade absoluta de consciência. O Maçon tem o direito de examinar e de criticar todas as opiniões e de discutir todos os problemas, sem quaisquer peias ou limitações. A Maçonaria é anti-dogmática, tanto no aspecto politico como religioso ou filosófico.




A política e a religião pertencem ao foro intimo de cada um e não podem ser discutidas, salvo nos termos genéricos acima referios, para não abalar a união do povo maçónico, pois, como se disse, a instituição congrega pessoas de todas as crenças ou sem crença nenhuma, de todas as ideologias não totalitárias.Assim é rotundamente falsa a acusação que vem dos tempos do “Santo Oficio” e que foi retomada pela ditadura deposta em 25 de Abril de 1974 devque os Maçons, ou pedreiro livre, é contra a religião. Muitos e ilustres membros da Ordem foram e são crentes e , até, bispos e cardeais.A Maçonaria aceita, aliás, a existência de um princípio superior, simbolozado pelo “Grande Arquitecto do Universo” (G.A.D.U.), que não tem definição e que cada um interpreta segundo a sua sensibilidade ou convicção. Para uns será o Deus em que acredita, para outros o Sol, fonte de vida, a própria natureza, a lei moral ou ainda a resultante de todas as forças que actuam no Universo. Esta ideia implica o respeito por todas as religiões, pois todas são igualmente verdadeiras, sem prejuizo do necessário combate ao fanatismo e à superstição.Nos tempos remotos e medievais, o Maçon era obrigado a perfilhar a religião do seu País. Mas depois do Iluminismo, e das formas modernas, considerou-se mais adequado, apenas lhe impôr a religião sobre a qual todos estão de acordo, e que consiste em amar o próximo, fazer o bem e ser homem bom, de honra e probidade.




Deste modo a Maçonaria é uma casa de união entre ateus, agnósticos e pessoas dos mais diversos credos.Deve porém dizer-se que a Maçonaria Regular, Tradicional ou de Via Sagrada, por oposição ao ramo Liberal ou Laico, impõe, a crença em Deus e na imortalidade da alma, excluindo também as mulheres. No entender de alguns Maçons este facto viola os principios maçónicos e contitucionais de igualdade (art.13º da Constituição da Republica Portuguesa). Ao manter uma velha tradição de 300 anos, que teima em não adequar aos valores ético-humanistas do nosso tempo, o ramo tradicional ou anglo-saxónico exclui da dignidade maçõnica três quartos da Humanidade.










(Texto retirado de “Introdução á Maçonaria” de António Arnaut)

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Relembrando Venceslau de Morais










Venceslau de Morais
Venceslau José de Sousa de Morais
[1] (Lisboa, 30 de Maio de 1854 - Tokushima, 1 de Julho de 1929) foi um militar da Marinha Portuguesa e escritor.
Era filho de Venceslau de Morais e de Maria Amélia Figueiredo. Oficial da
marinha, completou o curso Escola Naval em 1875, tendo prestado serviço em Moçambique, Macau, Timor Português e no Japão.
Após ter frequentado a Escola Naval serviu a bordo de diversos navios da
Marinha de Guerra Portuguesa. Em 1885 viaja pela primeira vez até Macau, onde se estabelece. Foi imediato da capitania do Porto de Macau e professor do respectivo liceu desde a sua fundação em 1894. Durante a sua estadia em Macau casou com Vong-Io-Chan (Atchan), mulher chinesa de quem teve dois filhos, e estabeleceu laços de amizade com Camilo Pessanha.
Entretanto, em 1889, viajara até ao
Japão, país que o encanta, e onde regressará várias vezes nos anos que se seguem no exercício das suas funções. Em 1897 visita o Japão, na companhia do Governador de Macau, sendo recebido pelo Imperador Meiji. No ano seguinte abandona Atchan e os seus dois filhos, e muda-se definitivamente para o Japão, como cônsul em Kobe.
Aí a sua vida é marcada pela sua actividade literária e jornalística, pelas suas relações amorosas com duas
japonesas (Ó-Yoné Fukumoto e Ko-Haru) e pela sua crescente "japonização".
Durante os trinta anos que se seguiram Venceslau de Morais tornou-se a grande fonte de informação
portuguesa sobre o Oriente, partilhando as suas experiências íntimas do quotidiano japonês com os seus leitores Portugueses, numa actividade paralela à de Lafcádio Hearn, o grande divulgador da cultura nipónica no mundo anglo-saxão, de quem foi contemporâneo.
Amargurado com a morte, por doença, de Ó-Yoné, Venceslau de Morais renunciou ao seu cargo consular em
1913 quando já era graduado em Tenente-coronel/Capitão de fragata, mudou-se para Tokushima, terra natal daquela. Aí viveu com Ko-Haru, sobrinha de Ó-Yoné, que viria também a falecer por doença.
Aí o seu quotidiano tornou-se crescentemente idêntico ao dos japoneses, embora tendo como pano de fundo uma crescente hostilidade destes. Cada vez mais solitário, e com a saúde minada, Venceslau de Morais viria a falecer em
Tokushima em 1 de Julho de 1929.
Venceslau de Morais foi autor de vários livros sobre assuntos ligados ao
Oriente, em especial o Japão.

1895 - Traços do Extremo Oriente
1897 - Dai-Nippon
1904 - Cartas do Japão (com várias séries e volumes publicados após esta data)
1905 - O culto do chá (eBook)
1906 - Paisagens da China e do Japão (eBook)
1907 - Cartas do Japão, A vida japonesa : 3ª Série (1905-1906) Lulu.com
1916 - O "Bon-Odori" em Tokushima
1917 - Ko-Haru
1920 - Fernão Mendes Pinto no Japão
1923 - Ó-Yoné e Ko-Haru
1924 - Relance da história do Japão
1926 - Os serões no Japão
1928 - Relance da alma japonesa
1933 - Osoroshi

Karel Appel

One more clip from Karel Appel's studio

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Francis Bacon A Terrible Beauty

Incredible Street Carnival Drumming: Brazil Batucada Live by Bangalafumenga

Manuel da Fonseca 1911 - 1993







Escritor português, vulto destacado do Neorrealismo, nasceu a 15 de outubro de 1911, em Santiago do Cacém, e morreu a 11 de março de 1993, em Lisboa. Partiu ainda jovem para Lisboa para realizar estudos secundários, tendo desempenhado posteriormente na capital diversas atividades profissionais no comércio, na indústria e no jornalismo. Antes de colaborar em Novo Cancioneiro, com Planície, coleção onde se afirmariam algumas coordenadas da estética poética Neorrealista numa primeira fase, editou, em 1940, Rosa dos Ventos, obra pioneira do neorrealismo poético português, nascida do convívio com um grupo de jovens escritores, entre os quais Mário Dionísio, José Gomes Ferreira, Rodrigues Miguéis, Manuel Mendes e Armindo Rodrigues, unidos numa "obstinada recusa de ser feliz num mundo agressivamente infeliz, uma ânsia de dádiva total e o grande sonho de criar uma literatura nova, radicada na convicção de que, na luta imensa pela libertação do Homem, ela teria um papel estimável a desempenhar contra o egoísmo, os interesses mesquinhos, a conivência, a indiferença perante o crime, a glorificação de um mundo podre" (DIONÍSIO, Mário - prefácio a Obra Poética de Manuel da Fonseca, 1984, p. 21). Não existindo descontinuidade entre a poesia e a prosa de Manuel da Fonseca, nem entre ambas e o escritor, que as impregna de um cariz autobiográfico, alimentado por recordações da convivência com o homem alentejano, ficção e obra poética interpenetram-se na evocação de personagens, narrativas, romances, paisagens alentejanas. Mário Dionísio (id. pp. 32-33) vê na oposição cidade/vila, recorrente na obra de Manuel da Fonseca, a oposição entre o que é "apaixonado e violento, desgraçado e heroico, profundamente humano, grave, limpo" e o que é ridículo, repugnante, mesquinho, "de ambição medíocre, de preconceitos míseros, que desvirtuam e lentamente asfixiam uma imagem ideal de vida que, na poesia de Manuel da Fonseca, quase sempre se identifica com tudo o que a infância e a adolescência têm de ingénuo e generoso e transparente e que a vida embacia, adultera e destrói." Autor de uma obra ancorada na realidade e eivada de um apontado regionalismo, a escrita de Manuel da Fonseca ultrapassa a contingência histórica de que nasceu, por um enaltecimento da vida, compreendida como intrinsecamente livre das imposições, frustrações, mentiras e condicionamentos impostos pela sociedade, ânsia de libertação, simbolizada, por exemplo, na repressão sexual imposta a algumas figuras femininas ou na admiração de figuras marginais como o "maltês" ou o vagabundo. Cerromaior (1943), O Fogo e as Cinzas (1951) e Seara de Vento (1958) são algumas das suas obras mais emblemáticas.

Alves Redol 1911 - 1969








1911-1927Nasce em Vila Franca de Xira, a 29 de Dezembro de 1911. Filho de António Redol da Cruz, comerciante, e de Inocência Alves Redol, frequenta o Colégio Arriaga, em Lisboa, onde conclui o curso comercial.
Espírito curioso, atrás do balcão da loja de seu pai tem oportunidade de se aperceber do mundo dos gaibéus, dos avieiros, dos camponeses e dos pescadores da sua região.
Apenas com 15 anos lança as suas impressões num artigo que é publicado na “Vida Ribatejana”, semanário da localidade.
1928-1937No dia 5 de Abril de 1928 embarca no “Niassa” a caminho de Luanda, onde “cheguei de bolsos vazios, uma garrafa de vinho do Porto na mão e uma grande vontade de vencer”. Arranja emprego ao fim de algum tempo, mas como o salário é curto, dá lições numa escola nocturna daquilo que aprendeu no seu curso secundário. Continua a escrever para “Vida Ribatejana”. Contudo, fica doente e isso obriga-o a regressar à Metrópole.
Empregado de escritório de profissão, começa por tomar parte muito activa na vida social da região do concelho de Vila Franca de Xira. Essa actividade dinamiza e mobiliza muita gente das classes trabalhadoras, e é conseguida através do Grémio Artística Vilafranquense – onde, em 1934, realiza a sua primeira palestra “Terra de pretos, ambição de brancos”, sobre a colonização portuguesa em África – e de uma colectividade recém.-formada, o Sport Lisboa e Vila Franca, que aponta para uma cultura das classes laboriosas. Alves Redol profere e organiza conferências e palestras, atento e identificado com o Povo. A polícia política encerra esta colectividade, este centro que irradiava, nas suas aulas nocturnas de alfabetização, consciência das causas de uma sociedade profundamente injusta. Tinha começado o contacto sensor, proibitivo, entre o grande escritor e a política repressiva. Além da actividade desenvolvida em colectividades, Redol dá aulas de aperfeiçoamento profissional para os membros da Associação de Classe dos Operários da Construção Civil. É, também, aluno e professor de Esperanto. A sua primeira novela, “Drama na Selva”, é publicada em “O Notícias Ilustrado”, de Lisboa, em 5 de Junho de 1932. Outras novelas se seguem na mesma publicação. Passa a colaborar assiduamente no jornal vilafranquense “Mensagem do Ribatejo” onde dirige, em 1939, uma página literária. Em 1936 casa com Maria dos Santos Mota. Alves Redol colabora em jornais de relevo na vida nacional anti-Estado Novo, anti.salazarismo: “O Diabo”, “Sol Nascente”. Em 29 de Novembro de 1936 surge a sua primeira colaboração em “O Diabo”, o conto “Kangondo”, de ambiente africano. De seguida publica crónicas que indicam um estudioso identificado com os problemas sociais da sua região (a série “De Sol a Sol”, “As lezírias”, “Campinos”), dois artigos sobre o escritor brasileiro Amando Fontes, alguns poemas.
Nos anos trinta insere-se na luta antifascista clandestina.1938-1945Editado pelo autor, “Glória, uma Aldeia do Ribatejo”, é um estudo etnográfico onde as aptidões ficcionistas de Alves Redol mais uma vez se patenteiam. Neste estudo se revela o método que marcará toda a sua obra literária: a vivência e o reconhecimento profundo dos problemas, só atingido com o contacto estreito com os locais e grupos sociais sobre que se debruça. “Gaibéus” surge em 1939. Esta obra, o primeiro romance neo-realista escrito em Portugal, é dedicado “à memória de Venâncio Alves e João Redol, ao ferreiro e ao campino”, seus avós. Com este romance inicia Alves Redol o ciclo de ficção temática ribatejana de camponeses e pescadores da borda d’água. “Gaibéus”, “Marés”, “Avieiros”, “Fanga”. “Fanga”, por exemplo, atinge em 1948 o décimo milhar de exemplares, o que no nosso mercado do livro, e em especial no do romance, constitui um acontecimento notável. A data de lançamento de “Fanga” coincide com o nascimento de seu filho único, António: 13 de Março de 1943.
Escritor empenhado na luta pela melhoria independente das classes trabalhadoras, é preso em 12 de Maio de 1944, debaixo de uma última ameaça, que chega a concretizar-se: nem um lápis nem um papel para escrever, como se quisessem tratá-lo como um novo Robinson Crusoé no centro de uma sociedade fascizante: exprimir-se, ele, Alves Redol, traçando os seus pensamentos com as ulhas nas paredes das celas. Reclamam-no, em 10 de Novembro de 1945, para a Comissão Central do Movimento de Unidade Democrática (M.U.D.). Participa activamente nas campanhas da oposição democrática aquando da realização de “eleições” promovidas pelo regime. Na sequência da apreensão de exemplares dos seus livros (entre os seus papéis foi encontrado um documento comprovativo da apreensão de “Gaibéus” em Tomar em Maio de 1940), das pressões exercidas sobre os editores, é obrigado pela entidade censória a submeter os originais a censura prévia, sendo, ao que se sabe, o único escritor português a sofrer essa situação humilhante durante o período de alguns anos.
1946-1963“Maria Emília” é a sua primeira obra de teatro. Segue-se “Forja” em 1948. Nomeado em 1947 Secretário-Geral da Secção Portuguesa do Pen Club – associação internacional de escritores – segue no ano seguinte para Wroclaw, na Polónia, integrado na Delegação Portuguesa que intervem no Congresso dos Intelectuais para a Paz, onde fala em nome da Delegação. É continuamente vigiado pela PIDE, nomeadamente na volta das suas deslocações ao estrangeiro, por ser um escritor de grande impacte [o] popular e muito admirado pelos trabalhadores das fábricas e dos campos.
Apesar das boas tiragens dos seus livros, é-lhe muito difícil viver do ofício de escritor. Por isso, chega, de parceria com a família, a montar uma unidade fabril no concelho de Vila Franca de Xira, onde, e apesar da sua participação indirecta, tem os seus amargos de boca.
Pelo romance “Horizonte Cerrado” primeiro volume de uma trilogia sobre os vinhateiros do Douro, recebe, em 1950, o Prémio Ricardo Malheiros. Por uma temporada fixa-se na região duriense e, dia a dia, observa e convive com os seus personagens. Para Alves Redol é uma nova perspectiva, é procurar as raízes do mesmo fenómeno social português: a identidade do trabalhador comas suas necessidades e a sua liberdade. Posição do escritor revelada na monumental obra “A França” – Da Resistência à Renascença”; em “Uma Fenda na Muralha”, drama dos pescadores da Nazaré entre um mar dos mais perigosos e uma costa sem porto de abrigo. Alves Redol observa, experimenta, quase naufraga metido entre os homens de uma companhia de pesca. Escritor de importância internacional, traduzido, convive com artistas e escritores em França, na Polónia, em Espanha. É impedido de participar num Congresso de Escritores na América Latina. Também escreve para a infância e para a juventude, e um dos seus mais belos livros tem como protagonista Constantino, um pequeno amigo que ele vê crescer no Freixial, localidade onde passa largos períodos de repouso saudável e escreve algumas das suas obras.
Em 1961 publica o que é considerado pela crítica o seu melhor romance: “Barranco de Cegos”. Inicia então, a sua actividade na publicidade. Em Outubro de 1963 é de novo preso.
1964-1969Em 1964 a Comissão Cultural da União Desportiva Vilafranquense toma a iniciativa de comemorar o 25º aniversário do lançamento de “Gaibéus”. O acontecimento alarga-se a nível nacional, entre o silêncio hostil de todo o poder salazarista e a solidariedade do povo e da intelectualidade portuguesa. Se “Gaibéus” é o primeiro romance de Alves Redol, ele também representa uma data histórica na introdução do neo-realismo em Portugal, corrente literária sem a qual não se poderá entender o contexto económico-social português.
Neste período, produz apenas um romance, mas introduz alterações formais importantes (e elabora significativos prefácios) nas obras reeditadas, escrevendo duas peças de teatro e os livros infantis da série “Maria Flor”. A publicidade (isto é, a necessidade de sobreviver...), esgota-lhe as energias. Escritor que é do seu tempo e nele participa na dupla mas única qualidade de homem e escritor, Alves Redol pode servir de exemplo na procurada e singular condição humana de autodidatismo conseguido pela experiência, pela observação, pelo estudo, pela cultura, pela actividade sócio-política – que sempre procura transmitir aos outros e depois vaza nos seus livros, dos mais admiráveis na nossa literatura.
Morre novo, o grande escritor, a 29 de Novembro de 1969, no Hospital de Santa Maria, depois de muitos dias de padecimento.