quarta-feira, 30 de março de 2011

Ângelo de Sousa

O pintor Ângelo de Sousa, uma das figuras marcantes da pintura portuguesa do último meio século, morreu ontem na sua casa no Porto, aos 73 anos, vítima de cancro.


Ângelo de Sousa radicou-se no Porto



segunda-feira, 28 de março de 2011

Prémio Pritzker para Souto Moura


O arquiteto Eduardo Souto Moura venceu a edição de 2011 do Prémio Pritzker pelo seu "rigor e precisão" bem como "sensibilidade" em integrar as obras no seu contexto. A distinção de Souto Moura, um dos expoentes máximos da chamada "Escola do Porto", foi saudada pelos arquitetos portugueses. A cerimónia de entrega do prémio decorrerá em Washington em junho.

domingo, 27 de março de 2011

O Poder da Arte. Único e deslumbrante.


Seis documentários com o rigor da BBC.

Tendo por base oito nomes incontornáveis do mundo da arte e oito obras-primas emblemáticas como “Davis segurando a cabeça de Golias”, de Caravaggio, “Guernica” de Picasso, “A Conspiração de Claudius Civilis”, de Rembrandt e “Auto-retrato” de Van Gogh, esta grandiosa série situa a arte no centro da grandes momentos da história da humanidade.

A não perder, a um preço muito acessível na FNAC.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Cartas de Amor


Uma carta é muito mais do que aquilo que lá esta escrito.
É baseado nesta frase que resolvi fazer uma serie de cartas de grafismo intraduzível a que dei o título de “Cartas de Amor. Espero que desta vez estas não sejam ridículas, como achava o Pessoa.


Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas

Álvaro de Campos

quarta-feira, 23 de março de 2011

A ultima revista Nova Águia dedicada a Fernando Pessoa


Não existe – porventura nunca existirá – uma grelha analítica que dê conta da totalidade da obra de Fernando Pessoa, o maior enigma da história da cultura portuguesa do século XX. Consciente desta intrínseca impossibilidade, Nova Águia não podia, no entanto, deixar de dar um contributo para um melhor esclarecimento da obra do autor maior da cidade de Lisboa e da língua portuguesa na primeira metade do século XX. Obedecendo aos quesitos teóricos da revista refundada por Teixeira de Pascoaes, desejámos voluntariamente que o contributo do nº 7 da Nova Águia não partisse de leituras vanguardistas, que ligam legitimamente Pessoa ao modernismo português, mas, diferentemente, de leituras vinculadoras da sua obra aos veios nervosos da cultura portuguesa, toda a cultura portuguesa, sem preconceitos nem limites.

Entre a morte do pai, a partida para Durban, África do Sul, e o regresso definitivo a Portugal, em 1905, Fernando Pessoa sofreu um triplo e anormal bloqueamento: familiar, provocado por uma radical ruptura na constituição do seu agregado familiar; linguístico, com a abrupta mudança do universo cultural de língua portuguesa para o de língua inglesa; pessoal, efeito dos dois anteriores, provocando um forte isolamento e ensimesmamento, comprovado por inúmeros textos autobiográficos.

No regresso a Portugal, este triplo bloqueamento, solidificado, manifesta-se na inadaptação escolar na frequência do curso de Filosofia no Curso Superior de Letras, no afastamento dos colegas, no desastre financeiro da tipografia Íbis e na inconformidade com a situação política portuguesa (greves de estudantes em 1907, nas quais, segundo o meio-irmão de Pessoa, este terá participado; “ditadura” de João Franco no mesmo ano; regicídio em 1908 e implantação da República em 1910). Do ponto de vista literário, o adolescente Pessoa é atraído pelo exotismo de vida solitária do poeta seu tio, general Henrique Rosa, e pela descoberta dos simbolistas franceses. Na África do Sul, Pessoa dá nascimento a múltiplos e tímidos “eus”: James Faber, Alexandre Search, Charles James Search, Charles Robert Anon…, todos esteticamente inclassificáveis: pseudónimos?, semi-heterónimos?, pré-heterónimos?, ou, como os classifica Robert Bréchon, “pseudópodos”? A solução parece assentar neste último conceito. Com excepção de Alexandre Search, de obra com alguma consistência, espécie de elo de ligação entre os estudos clássicos ingleses e o modernismo europeu, todos os outros “eus” se constituem como momentos autorais de intervalo, pontos de apoio psicológicos e estéticos na passagem entre a adolescência e a maturidade poética, esta caracterizada pelo duplo efeito de despersonalização própria e de cristalização do eu nos três heterónimos principais da sua poesia. Terminara o tempo dos Search (busca), dos Anon (anónimo) e dos Jean Seul () – Pessoa vazara definitivamente o seu eu em três principais “eus”, correspondentes a três visões poéticas do mundo, que culminarão com a “emergência” do “dia triunfal” de 8 de Março de 1914 e a irrupção de Orpheu, em 1915.

Através do dossier apresentado, sentimos ter-se tornado mais forte a análise cultural (não estritamente poética ou literária) da obra de Pessoa, com relevo para a aproximação à saudade, à consciência cultural da língua e aos aspectos esotéricos – esse “Adamastor” de que os pessoanos pós-modernistas tanto receiam.

*


terça-feira, 22 de março de 2011

Why – da mesa de dois convivas



Um texto do meu amigo pintor Nuno Quaresma ,agora que falta pouco tempo para a nossa exposição (8/4) na Mapaposta.

Será o homem a mais bela criação de Deus ?

Why – da mesa de dois convivas .

Foi numa almoçarada com o meu Amigo e Pintor João Silva
que durante 1hora, e sem qualquer premeditação, este foi o
tema de uma deliciosa conversa.
Não me lembro já se foi à borda de um Cozido ou de uma
Jardineira, às vezes tenho a noção vaga que foi diante de um
Bacalhau, de tenras lascas, com grão – aliás o meu “God
Fish” – o peixe sagrado na minha mesa.
O autor da interrogação foi o João. Parecia-lhe um bom mote
para uma série de trabalhos que desejava fazer, mas a
questão em mim parecia-me iniciática, seminal, fracturante.
No momento, enquanto degustava o pitéu com o
empurrãozinho de um bom “penaltie”, entre uma e outra
gargalhada, entre uma e outra sentença mais solene, na
minha cabeça, outras questões surgiam.
Será Deus a mais Bela criação do Homem?
O que é o Belo?
Existirá o Belo sem que exista pelo menos uma alma que o

reconheça?

Perguntas a mais, dirão alguns, sobretudo na cabeça de um
pintor. Decidi então pensar da maneira que o sei fazer, a
pintar. E a pintar, curiosamente deixei de

pensar para começar a sentir, a acreditar.
O resultado é o espólio desta mostra intitulada Beautyful
Creation 1# - Why?

Nuno Quaresma

Rui Simões realizador de "A Ilha"


Mais uma vez, depois de As Ruas da Amargura, Rui Simões pega num tema que parece estafado, para mostrar que é sempre possível romper a superficialidade da cartola e tirar de lá mais alguns coelhos. No famoso guetto da amadora encontrou um bairro que dá uma "lição de vida comunitária" a todo o país. O realizador não se interessa por política, não pertence a nenhum partido, "mas sou um militante de causas". E percebeu que ter ali "África a um minuto de Lisboa" é um património que não pode ser destruído, "e que só nos enriquece". Não se interessou pelo tráfico, nem tanto pelos aspectos mais exóticos da senhora a moer o milho no meio da rua. Interessou-lhe esta ideia de "ver um Cabo Verde reconstruído à imagem do seu próprio país", onde se vive na rua, se convive, se fazem festa onde cabe sempre mais um, onde uma série de serviços comunitários são humanos e funcionais. "Características e atitudes e gestos, que são mais riqueza do que pobreza". Sem ajuda de voz off e sem recorrer a música de apoio, para além daquela que se escuta no bairro, Rui Simões passou três anos a pesquisar e a conhecer as pessoas, mas classifica-o como um dos filmes mais difíceis de fazer da sua carreira. É complicado retratar toda uma população, transmitir o ambiente, toda aquela energia das festas que chegavam a durar dez horas, e depois condensar tudo numa hora e meia de filme. Na Ilha... (estreia-se em sala a 13 de Maio) a câmara de Rui Simões entra literalmente no panelão da cachupa. "Gostava que as pessoas no cinema conseguissem cheirar aquele prato".

A Ilha



A Ilha, um documentario a não perder, para compreendermos a interculturalidade e o sentido de ajuda e partilha desta comunidade às portas de Lisboa.

País: Portugal
Género: Documentário
Duração: 95 min.
Distribuidora: Real Ficção

Realização
Rui Simões

Na área da Grande Lisboa, o nome Cova da Moura nunca foi sinónimo de bem-estar, educação ou prosperidade. Pelo contrário, esteve sempre associado à ideia de violência, insegurança, perigo, ou, na melhor das hipóteses, de falta de instrução ou simplesmente pobreza. O documentário de Rui Simões não pretende apenas procurar o outro lado do bairro e fazer um retrato positivo da sua comunidade. O objectivo deste projecto não é o de apagar uma série de ideias feitas mas procurar as causas e efeitos desses preconceitos. Assim, o realizador seguiu o quotidiano deste bairro, descobrindo nele reflexos de Cabo Verde e procurando os modos como a exclusão social se combate ou perpetua nas vidas dos seus moradores.

Sonhar Com o Teu Olhar



Fotos da exposição “Sonhar com o teu olhar”inaugurada no passado dia 11 de Março com trabalhos dos alunos do Projecto 12-15 da Escola Intercultural. Esta mostra foi pensada e concebida com a ideia de que quanto mais percebermos os nossos alunos,melhores ferramentas teremos para lhe dar a sabedoria e a arte por vezes tão difícil da livre escolha. Para quepossam construir o seu caminho e o alicerçarem, percebendo que a vida tem sempre regras direitos e deveres. Nada melhor para os entender que: SONHARMOS COM O SEU OLHAR João Silva

quarta-feira, 9 de março de 2011

Figurações versus Desfigurações - Quem procura ver nunca deixará de sentir.









É sempre um prazer participar nas exposições do grupo Artever.Embora não pudesse ir à inauguração, ficam as imagens dos meus trabalhos da serie" Historias Sem Fim à Vista".



Corceiro | Eduardo Abrantes | Fernando Vidal
Henrique Faria | João Silva | Joaquim Lourenço
José Mourão | José Raimundo
Marina dos Santos | Susana Mourão 

Galeria Espaço Artever
de 5 a 21 MARÇO de 2011


Figurações versus Desfigurações
Quem procura ver nunca deixará de sentir.

Desde sempre os artistas foram realizando objectos artísticos figurativos. A dado momento começaram a desfigura-los. E esta alternância foi-se repetindo ao longo dos tempos.


Quando se representa, significa-se ou imita-se. E em consequência, desfigura-se a realidade significada ou imitada. Em simultâneo, figura-se e desfigura-se.

Os autores podem valer-se das qualidades de representação do real ou valer-se de uma imaginação deslocada desse real, que o resultado é sempre um novo objecto.

Quando se cria uma obra ela torna-se um objecto autónomo, independente. Nem o seu autor lhe voltará. Este não deixará de ser o criador mas, dando ou não por isso, empurra o objecto para uma vida própria. O tempo se encarregará de o tornar visível ou de o fazer desaparecer.

Num conjunto de artistas plásticos, como o Artever, que se apresenta como um colectivo descomprometido, há como que uma verdade em confronto. Para lá do que cada um, em si, representa ou significa, para lá da matéria que cada obra versa ou apresenta, há uma existência física que incide no espectador como se fosse um aguilhão a provocar dor: procura-se ou ignora-se; gosta-se ou não se gosta; entende-se ou não se entende; quer-se ou não se quer… Mas quem procura ver nunca deixará de sentir.
Amadora, Março de 2011 | José Mourão

terça-feira, 8 de março de 2011

Revista Ler nº 100


«Lobo Antunes devia ter ganho o Nobel com Saramago»

Revelações exclusivas de George Steiner

«José Saramago não é o maior escritor português da actualidade. Para mim, esse é, de longe, António Lobo Antunes. É um gigante. Teria algum pudor em me encontrar com ele para o conhecer, e, contudo, adoraria conhecê-lo. Ele é um grande e Portugal não lhe deu ainda o devido reconhecimento. Devia ter ganho o Nobel há já algum tempo. Mas não aconteceu. Por causa de Saramago. Deviam ter ganho ambos, em partilha. Mas não está completamente arredado dessa atribuição.» Uma das revelações de George Steiner que a LER publica, em exclusivo, na edição especial nº 100, que chega amanhã às bancas de todo o país.


Ensaísta, crítico e académico – autor de Gramáticas da Criação, A Ideia de Europa, O Silêncio dos Livros ou As Lições dos Mestres, entre outros livros –, um dos mestres do nosso tempo, George Steiner atravessa nesta entrevista, conduzida por José Eduardo Franco e Beata Cieszynska, os grandes temas da actualidade, como a encruzilhada da Europa, as novas potências, o Islão, o choque de civilizações, o ensino no século XX, a crise económica, a literatura portuguesa e a revolução das redes sociais. «Onde existir um iPad, a internet e as redes sociais não é possível o isolamento. As coisas estão a mudar rapidamente. A revolução da informação é também uma revolução política e ideológica. Já não é possível aniquilar grupos de homens, construir muros, barreiras de separação que funcionem realmente.»


A entrevista de George Steiner é um dos destaques de um número especial, comemorativo das 100 edições da LER. Por isso, escolhemos 100 imagens, 100 livros e 100 nomes que cruzaram a história da LER desde 1987; publicamos 100 ideias para o futuro assinadas por 100 personalidades da sociedade portuguesa (João Lobo Antunes, Gonçalo M. Tavares, Pedro Adão e Silva, João Pereira Coutinho, Francisco Seixas da Costa, Manuel Graça Dias, Nuno Artur Silva, Irene Flunser Pimentel, Lídia Jorge, Nuno Crato, etc.), um grande quiz que dá direito a prémio especial e um ensaio de Harold Bloom (outro exclusivo) sobre os génios criativos da História da Literatura.

Tolerância


Hino à Tolerância

Já será grande a tua obra se tiveres conseguido levar a tolerância ao espírito dos que vivem em volta; tolerância que não seja feita de indiferença, da cinzenta igualdade que o mundo apresenta aos olhos que não vêem e às mãos que não agem; tolerância que, afirmando o que pensa, ainda nas horas mais perigosas, se coíba de eliminar o adversário e tenha sempre presente a diferença das almas e dos hábitos; dar-lhe-ão, se quiserem, o tom da ironia, para si próprios, para os outros; mas não hão-de cair no cepticismo e no cómodo sorriso superior; quando chegar o proceder, saberão o gosto da energia e das firmes atitudes. Mais a hão-de ter como vencedores do que como vencidos; a tolerância em face do que esmaga não anda longe do temor; então, antes os quero violentos que cobardes.
Mas tu mesmo, Marcos, com que direito és tolerante? Acaso te julgas possuidor da verdade? Em que trono te sentaram para que assim olhes de cima o resto dos humanos e todo o mundo em redor? Por que tão cedo te separas de compreender e de amar? Tens a pena do rico para o pobre, dás-lhe a esmola de lhe não fazer mal; baixaste a suportar o que é divino como tu; e queres que te vejamos superior porque já te não deixas irritar por gestos ou palavras dos irmãos. Mais alto te pretendo e mais humilde; à tolerância que envergonha substitui o cálido interesse pedagógico, o gosto fraternal de aprender e de guiar; não levantes barreiras, mas abate-as; se consideras pior o caminho dos outros vai junto deles, aconselha-os e guia-os; não os deixes errar só porque os dominarias, se quisesses; transforma em forte, viva chama o que a pouco e pouco se dirige a não ser mais que um gelado desdém.

Agostinho da Silva, in 'Considerações'


Praga, um dos meus destinos nas próximas ferias.




Praga (em checo: Praha) é a capital e a maior cidade da República Checa, situada na margem do Vltava. Conhecida como "cidade das cem cúpulas", Praga é um dos mais belos e antigos centros urbanos da Europa, famosa pelo extenso patrimônio arquitetônico e rica vida cultural. Importante também como núcleo de transportes e comunicações, é o principal centro econômico e industrial da República Checa. Situada na Boêmia central, a cidade de Praga localiza-se sobre colinas, em ambas as margens do rio Vltava, pouco antes de sua confluência com o rio Elba. O curso sinuoso do rio através da cidade, cheia de belas e antigas pontes, contrasta com a presença imponente do grande Castelo de Praga em Hradcany, que domina a capital na margem esquerda (oriental) do Vltava.

Missão Templária nos Descobrimentos - Rainer Daehnhardt


Rainer Daehnhardt

Reconhecido historiador, nasceu a 7 de Dezembro de 1941 e é descendente de uma família de diplomatas e militares alemães radicados em Portugal desde 1706. Estudou na Alemanha e em Portugal, especializando-se no "estudo da evolução do Homem através da arma e sua utilização".

O acesso à verdade histórica, ao modo como ela de facto se passou, é muito mais difícil do que se possa pensar. Torna-se necessário ler, não só nas entrelinhas, como interrogarmo-nos na forma de pensar e agir do escritor na sua própria época, com os condicionalismos então existentes, assim como também ir buscar fontes contrárias, muitas vezes estrangeiras, para podermos ver os dois lados da questão.” R.D.

Um pequeno grande livro com uma visão original sobre a historia dos descobrimentos . A prova que a historia é um lugar vivo e nalguns casos, sem verdades absolutas.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Pessoa Online.


Toda a biblioteca de Fernando Pessoa disponível online

Os livros da Biblioteca Particular de Fernando Pessoa já estão disponíveis gratuitamente online no site da Casa Fernando Pessoa.

Até agora, só uma visita à Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, permitia consultar este acervo que é "riquíssimo", mas com o site, bilingue (português e inglês, e disponível em http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt) em qualquer lugar do mundo, com uma ligação à Internet é possível consultar, página a página, os cerca de 1140 volumes da biblioteca, mais as anotações - incluindo poemas - que Fernando Pessoa foi fazendo nas páginas dos livros. "Manuscritos que muitas vezes se deterioram com o tempo, pois muitos deles foram feitos a lápis", disse Inês Pedrosa.

Por isso já começaram o restauro destas obras. "Alguns já estão restaurados, pedimos um orçamento à Fundação Ricardo Espírito Santo e estamos agora à procura de outra instituição para o pagar", disse ao jornal Público a escritora.

Em Novembro, realiza-se o 2º Congresso Internacional Fernando Pessoa e no dia 23 será lançada a revista, trimestral e bilingue, de literatura e ensaio.

Tudo começou em 2008 quando o investigador e estudioso da obra de Fernando Pessoa, Jerónimo Pizarro, propôs à directora da Casa Pessoa, Inês Pedrosa, que se fizesse a digitalização dos livros que pertenceram ao poeta. Estão disponíveis em PDF e JPG e na íntegra. A Fundação Vodafone Portugal apoiou a iniciativa com 77 mil euros e assim foi possível concretizar o sonho de Pizarro: "Tornar Pessoa ainda mais universal e ter a sua biblioteca aberta ao mundo inteiro", disse o investigador.


Quando os Lobos Uivam


Publicado em 1958, “Quando os Lobos Uivam” é talvez o romance mais conhecido de Aquilino Ribeiro e um dos últimos que escreveu. Já anteriormente “marcado” pelo regime salazarista, esta obra valeu-lhe um mandato de captura e a apreensão de todos os exemplares editados.

E o que faz deste romance algo “digno” de censura e o seu autor “persona non grata” para o regime?

Serra dos Milhafres, finais dos anos 40, o Estado Novo resolve impor aos beirões uma nove lei: Os terrenos baldios que sempre tinham sido utilizados para bem comunitário e onde essa comunidade retirava parte vital do seu sustento, seriam agora “expropriados” e esses terrenos utilizados para plantar pinheiros. Assim, sem mais nem menos, o Estado chega e diz que, a partir daquele momento, acabou.

Implanta-se um clima de medo nas gentes e é esse clima que Manuel Louvadeus, que havia emigrado para o Brasil anos antes, vem encontrar quando regressa à aldeia.

Homem vivido e culto devido, segundo o próprio, aos muitos livros que por lá havia lido, Manuel tem uma visão para os dois lados e um sentido de justiça que rapidamente o fazem cair nas boas graças das gentes do povo.

Toma então parte da sua gente, homens honestos e humildes que trabalham de Sol a Sol mas que não deixam de viver em condições miseráveis.

A revolta acaba por suceder e entre mortos e feridos tudo acaba numa caçada aos homens por parte da polícia que leva muitos homens à prisão acusados de serem instigadores e cérebros da revolta. O Estado mostra então todo o seu esplendoroso poder.

Obviamente que mais de 50 anos após a sua publicação muitos não entendem o porquê da censura, no entanto não é necessário grandes pesquisas para entender, até porque Aquilino Ribeiro é directo, não se refugia em metáforas ou alegorias.

Aqui representado está a saga dos beirões na defesa dos terrenos baldios perante a ditadura do Estado Novo.

Representado também, ou se quiserem, brilhantemente retractado, a miséria em que vivia o povo beirão que é apenas a mostra da maioria da população portuguesa da altura, assim como a sua ignorância que, sobretudo, grassava no interior de Portugal.

É normal que o romance tivesse enfurecido o regime. Aquilino Ribeiro é demolidor na forma como denuncia a natureza, prepotência e arrogância do Estado, mas vai mais longe, descreve o funcionamento dos Tribunais Plenários fascistas e a ligação do sistema judicial às classes dominantes do país. Estes tribunais que funcionaram de 1945 a 24 Abril 1974, foram um dos mais tenebrosos mecanismos repressivos. Aquilino denuncia a podridão desse mecanismo e da cumplicidade entre magistrados e polícia política.

Algo que me fascinou em Aquilino Ribeiro foi a sua escrita. Poética a forma como constrói a narrativa, utilizando expressões beirãs (confesso que muitas dessas expressões me eram totalmente desconhecidas) que nos situam temporalmente em simultâneo com uma descrição sublime das gentes, transmitindo-nos a sua humildade e a sua natureza que, no fundo, é a natureza, a raiz do povo português.

Enlevante nas palavras, na graça e ironia que coloca, na arte do saber escrever.

Um livro belíssimo, uma pérola da literatura portuguesa, um verdadeiro mestre da arte da escrita.

Compreendo agora porque José Saramago afirmou, quando ganhou o Prémio Nobel da Literatura, que se Aquilino Ribeiro estivesse vivo seria ele a receber o Nobel.