quarta-feira, 4 de abril de 2012

Alves Redol 1911 - 1969








1911-1927Nasce em Vila Franca de Xira, a 29 de Dezembro de 1911. Filho de António Redol da Cruz, comerciante, e de Inocência Alves Redol, frequenta o Colégio Arriaga, em Lisboa, onde conclui o curso comercial.
Espírito curioso, atrás do balcão da loja de seu pai tem oportunidade de se aperceber do mundo dos gaibéus, dos avieiros, dos camponeses e dos pescadores da sua região.
Apenas com 15 anos lança as suas impressões num artigo que é publicado na “Vida Ribatejana”, semanário da localidade.
1928-1937No dia 5 de Abril de 1928 embarca no “Niassa” a caminho de Luanda, onde “cheguei de bolsos vazios, uma garrafa de vinho do Porto na mão e uma grande vontade de vencer”. Arranja emprego ao fim de algum tempo, mas como o salário é curto, dá lições numa escola nocturna daquilo que aprendeu no seu curso secundário. Continua a escrever para “Vida Ribatejana”. Contudo, fica doente e isso obriga-o a regressar à Metrópole.
Empregado de escritório de profissão, começa por tomar parte muito activa na vida social da região do concelho de Vila Franca de Xira. Essa actividade dinamiza e mobiliza muita gente das classes trabalhadoras, e é conseguida através do Grémio Artística Vilafranquense – onde, em 1934, realiza a sua primeira palestra “Terra de pretos, ambição de brancos”, sobre a colonização portuguesa em África – e de uma colectividade recém.-formada, o Sport Lisboa e Vila Franca, que aponta para uma cultura das classes laboriosas. Alves Redol profere e organiza conferências e palestras, atento e identificado com o Povo. A polícia política encerra esta colectividade, este centro que irradiava, nas suas aulas nocturnas de alfabetização, consciência das causas de uma sociedade profundamente injusta. Tinha começado o contacto sensor, proibitivo, entre o grande escritor e a política repressiva. Além da actividade desenvolvida em colectividades, Redol dá aulas de aperfeiçoamento profissional para os membros da Associação de Classe dos Operários da Construção Civil. É, também, aluno e professor de Esperanto. A sua primeira novela, “Drama na Selva”, é publicada em “O Notícias Ilustrado”, de Lisboa, em 5 de Junho de 1932. Outras novelas se seguem na mesma publicação. Passa a colaborar assiduamente no jornal vilafranquense “Mensagem do Ribatejo” onde dirige, em 1939, uma página literária. Em 1936 casa com Maria dos Santos Mota. Alves Redol colabora em jornais de relevo na vida nacional anti-Estado Novo, anti.salazarismo: “O Diabo”, “Sol Nascente”. Em 29 de Novembro de 1936 surge a sua primeira colaboração em “O Diabo”, o conto “Kangondo”, de ambiente africano. De seguida publica crónicas que indicam um estudioso identificado com os problemas sociais da sua região (a série “De Sol a Sol”, “As lezírias”, “Campinos”), dois artigos sobre o escritor brasileiro Amando Fontes, alguns poemas.
Nos anos trinta insere-se na luta antifascista clandestina.1938-1945Editado pelo autor, “Glória, uma Aldeia do Ribatejo”, é um estudo etnográfico onde as aptidões ficcionistas de Alves Redol mais uma vez se patenteiam. Neste estudo se revela o método que marcará toda a sua obra literária: a vivência e o reconhecimento profundo dos problemas, só atingido com o contacto estreito com os locais e grupos sociais sobre que se debruça. “Gaibéus” surge em 1939. Esta obra, o primeiro romance neo-realista escrito em Portugal, é dedicado “à memória de Venâncio Alves e João Redol, ao ferreiro e ao campino”, seus avós. Com este romance inicia Alves Redol o ciclo de ficção temática ribatejana de camponeses e pescadores da borda d’água. “Gaibéus”, “Marés”, “Avieiros”, “Fanga”. “Fanga”, por exemplo, atinge em 1948 o décimo milhar de exemplares, o que no nosso mercado do livro, e em especial no do romance, constitui um acontecimento notável. A data de lançamento de “Fanga” coincide com o nascimento de seu filho único, António: 13 de Março de 1943.
Escritor empenhado na luta pela melhoria independente das classes trabalhadoras, é preso em 12 de Maio de 1944, debaixo de uma última ameaça, que chega a concretizar-se: nem um lápis nem um papel para escrever, como se quisessem tratá-lo como um novo Robinson Crusoé no centro de uma sociedade fascizante: exprimir-se, ele, Alves Redol, traçando os seus pensamentos com as ulhas nas paredes das celas. Reclamam-no, em 10 de Novembro de 1945, para a Comissão Central do Movimento de Unidade Democrática (M.U.D.). Participa activamente nas campanhas da oposição democrática aquando da realização de “eleições” promovidas pelo regime. Na sequência da apreensão de exemplares dos seus livros (entre os seus papéis foi encontrado um documento comprovativo da apreensão de “Gaibéus” em Tomar em Maio de 1940), das pressões exercidas sobre os editores, é obrigado pela entidade censória a submeter os originais a censura prévia, sendo, ao que se sabe, o único escritor português a sofrer essa situação humilhante durante o período de alguns anos.
1946-1963“Maria Emília” é a sua primeira obra de teatro. Segue-se “Forja” em 1948. Nomeado em 1947 Secretário-Geral da Secção Portuguesa do Pen Club – associação internacional de escritores – segue no ano seguinte para Wroclaw, na Polónia, integrado na Delegação Portuguesa que intervem no Congresso dos Intelectuais para a Paz, onde fala em nome da Delegação. É continuamente vigiado pela PIDE, nomeadamente na volta das suas deslocações ao estrangeiro, por ser um escritor de grande impacte [o] popular e muito admirado pelos trabalhadores das fábricas e dos campos.
Apesar das boas tiragens dos seus livros, é-lhe muito difícil viver do ofício de escritor. Por isso, chega, de parceria com a família, a montar uma unidade fabril no concelho de Vila Franca de Xira, onde, e apesar da sua participação indirecta, tem os seus amargos de boca.
Pelo romance “Horizonte Cerrado” primeiro volume de uma trilogia sobre os vinhateiros do Douro, recebe, em 1950, o Prémio Ricardo Malheiros. Por uma temporada fixa-se na região duriense e, dia a dia, observa e convive com os seus personagens. Para Alves Redol é uma nova perspectiva, é procurar as raízes do mesmo fenómeno social português: a identidade do trabalhador comas suas necessidades e a sua liberdade. Posição do escritor revelada na monumental obra “A França” – Da Resistência à Renascença”; em “Uma Fenda na Muralha”, drama dos pescadores da Nazaré entre um mar dos mais perigosos e uma costa sem porto de abrigo. Alves Redol observa, experimenta, quase naufraga metido entre os homens de uma companhia de pesca. Escritor de importância internacional, traduzido, convive com artistas e escritores em França, na Polónia, em Espanha. É impedido de participar num Congresso de Escritores na América Latina. Também escreve para a infância e para a juventude, e um dos seus mais belos livros tem como protagonista Constantino, um pequeno amigo que ele vê crescer no Freixial, localidade onde passa largos períodos de repouso saudável e escreve algumas das suas obras.
Em 1961 publica o que é considerado pela crítica o seu melhor romance: “Barranco de Cegos”. Inicia então, a sua actividade na publicidade. Em Outubro de 1963 é de novo preso.
1964-1969Em 1964 a Comissão Cultural da União Desportiva Vilafranquense toma a iniciativa de comemorar o 25º aniversário do lançamento de “Gaibéus”. O acontecimento alarga-se a nível nacional, entre o silêncio hostil de todo o poder salazarista e a solidariedade do povo e da intelectualidade portuguesa. Se “Gaibéus” é o primeiro romance de Alves Redol, ele também representa uma data histórica na introdução do neo-realismo em Portugal, corrente literária sem a qual não se poderá entender o contexto económico-social português.
Neste período, produz apenas um romance, mas introduz alterações formais importantes (e elabora significativos prefácios) nas obras reeditadas, escrevendo duas peças de teatro e os livros infantis da série “Maria Flor”. A publicidade (isto é, a necessidade de sobreviver...), esgota-lhe as energias. Escritor que é do seu tempo e nele participa na dupla mas única qualidade de homem e escritor, Alves Redol pode servir de exemplo na procurada e singular condição humana de autodidatismo conseguido pela experiência, pela observação, pelo estudo, pela cultura, pela actividade sócio-política – que sempre procura transmitir aos outros e depois vaza nos seus livros, dos mais admiráveis na nossa literatura.
Morre novo, o grande escritor, a 29 de Novembro de 1969, no Hospital de Santa Maria, depois de muitos dias de padecimento.

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