O filme vencedor da competição nacional, 'Li Ké Terra', conta a história de dois jovens cabo-verdianos que vivem em Portugal Li Ké Terra significa qualquer coisa como "esta é a minha terra". É uma frase que os jovens do Casal da Boba, na Amadora, escrevem nas paredes do seu bairro. "Boba Li Ké Terra". Como quem diz: é aqui que me sinto bem. A expressão adequa-se perfeitamente a Miguel e Bruno, filhos de imigrantes cabo-verdianos que vivem em Portugal mas que, por motivos vários (entre os quais o descuido dos pais em tratar dos papéis), não têm a sua situação regularizada: "Eles não são portugueses nem cabo-verdianos, pertencem ali, àquele bairro", explica João Miller Guerra, um dos três realizadores de Li Ké Terra, o filme que venceu a competição portuguesa do DocLisboa. O filme mostra a vida destes dois amigos: Miguel Moreira "Tibars" e Ruben Furtado "Dibela". Miguel perdeu a mãe aos três anos e o pai foi preso e repatriado; desde sempre morou com a avó e, apesar de não ter documentos portugueses, frequenta a escola, gosta de música e até participa num workshop onde está a aprender como realizar um filme. Bruno tem dez irmãos de pais diferentes, só estudou até ao 6.º ano e, desde então, está sem fazer nada. Miguel tem uma teoria interessante sobre a diferença entre as miúdas a que chama "damas" e as outras a que chama "namoradas". Bruno não acredita em Deus, mas acredita que pode controlar o seu futuro: está disposto a correr de guichet em guichet para conseguir a nacionalidade portuguesa (acompanhamos esse processo) e prefere passar os dias a não fazer nada a tornar-se um criminoso: "O que iria depois dizer aos meus filhos?" É este dia-a-dia que se mostra em Li Ké Terra, o filme de Filipa Reis, João Miller Guerra e Nuno Baptista. O trio começou por de-senvolver um projecto social no bairro em conjunto com a Fundação Gulbenkian . Foi assim que conheceram Miguel e Ruben. Produzido pela Vende-se Filmes, o documentário foi financiado pela CPLP - Comunidade de Países de Língua Portuguesa e tem, por isso, uma versão mais reduzida (52 minutos) para passar em televisão e uma versão maior (66 minutos) que irá andar por aí em festivais. No DocLisboa, além da competição portuguesa, Li Ké Terra venceu também o prémio Escolas. "É muito bom. Quer dizer que a nossa visão passou e que agradou tanto à crítica quanto aos alunos", comenta Nuno Baptista. "Isso é importante para nós, queremos que o filme seja exibido nas escolas", acrescenta João. Até porque, a mensagem final é bastante positiva: "Não queríamos retratá-los nem como coitadinhos nem como heróis. Há a crítica ao sistema mas também às pessoas, que não se mexem, há ali muita inércia. A verdade é que no meio de todas aquelas adversidades eles são felizes."[
segunda-feira, 11 de abril de 2011
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O texto contem muita informaçao errada...
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