quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Dalai Lama e Agostinho da Silva na prespectiva de Paulo Borges





Foi para pensar no “diálogo e uma espiritualidade inter e trans-religiosos”, tendo como base “uma reflexão a partir de Agostinho da Silva e de Sua Santidade o XIV Dalai Lama” que Paulo Borges, presidente da União Budista Portuguesa, interveio no 1º Encontro Internacional de Lisboa, sobre “Religiões, Violência e Razão”, organizado pelo Grande Oriente Lusitano.
Tenzin Gyatso, XIV Dalai LamaPaulo Borges referiu “o entusiasmo de Agostinho da Silva pelo culto popular do Espírito Santo, originado no séc. XIII e hoje presente nos Açores e no Brasil, cujo simbolismo da coroação da criança como Imperador do mundo, da libertação dos presos e do banquete gratuito vê como o do pleno cumprimento do homem. Nessa religião de expressão portuguesa e lusófona, centrada na experiência e revelação de um absoluto ou Deus que por vezes designa apenas como Espírito” que todas as religiões, “juntamente com as experiências ateias, agnósticas ou anti-religiosas manifestam esse centro e essa fonte indeterminados e inefáveis e o desejo de se fusão nele”.
O ecumenismo deixa de ser um “acordo de convivência tantas vezes incomodamente exigido pelas circunstâncias históricas, culturais e políticas como algo que as religiões localmente maioritárias condescendem apenas à superfície e não sem mal disfarçada sobranceria (…) o que, na perspectiva agostiniana, seria um dos aspectos do próprio pecado contra o Espírito Santo, na sua imprevisível e inobjectivada manifestação”.
“Quanto a Sua Santidade o Dalai Lama, constatando o facto lamentável de que a religião seja historicamente causadora de tantos conflitos, atribui-lhe duas causas principais: a própria diversidade religiosa, doutrinal, cultural e de práticas, e os factores contextuais políticos, económicos e outros, principalmente a nível institucional, que se lhe associam. Vê a solução destes na secularização e sobretudo na separação entre as hierarquias religiosas e as instituições estatais, enquanto a dos primeiros passa pela promoção da harmonia inter-religiosa, aspecto importante da ética de responsabilidade universal que advoga”, enunciou o orador.
Mais adiante, enumera as quatro vias que o Dalai Lama aponta “para vencer a ignorância e promover a compreensão mútua mediante o diálogo inter-religioso:
1 – encontros entre eruditos onde se debatam as convergências e sobretudo as divergências entre as confissões;2 – encontros entre praticantes genuínos de diferentes religiões que assim partilhem a experiência e compreensão da sua própria prática religiosa;3 – encontros ocasionais entre diferentes líderes religiosos para orarem em conjunto, sobretudo importantes pelo efeito social do exemplo;4 – peregrinações conjuntas de pessoas de diferentes religiões aos lugares sagrados de uns e outros.
Estas práticas tornam evidente para os seguidores de cada religião que os ensinamentos das outras são, tais como os da sua, fonte de inspiração espiritual e de orientação ética, que, apesar das diferenças doutrinais e outras, todas as grandes religiões visam melhorar os indivíduos mediante o desenvolvimento dos valores fundamentais, e que as vidas dos seus fundadores são identicos exemplos de disciplina ética e amor pelos outros“.
Entre outras, Paulo Borges extrai uma conclusão sem dúvida nova deste cruzamento entre o pensamento do Dalai Lama e de Agostinho da Silva. Afirma o orador: “Seja o que o Agostinho da Silva designa como a experiência do Espírito Santo, ou do incriado fundo de si e do mundo, seja o que Sua Santidade o Dalai Lama designa como natureza de Buda ou, em termos laicos, como a profunda transformação espiritual referida, é assim a indeclinável condição de possibilidade de um efectivo diálogo inter e trans-religioso que assuma religiões, ateísmo e agnosticismo, na sua irredutível diversidade, como vias possíveis para uma vida ética e espiritualmente mais plena e um mundo melhor”.

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