quarta-feira, 2 de maio de 2012

Fernando Lopes 1935-2012

Fernando Lopes, um dos nomes de referência do Cinema Novo português, morreu esta quarta-feira aos 76 anos, confirmou ao PÚBLICO fonte familiar. O cineasta estava hospitalizado.
Com uma carreira de 50 anos, Fernando Lopes era, a par de Paulo Rocha e Manoel de Oliveira, uma das referências do cinema português. Autor de “Uma Abelha na Chuva”, de 1972, destacou-se recentemente no top do PÚBLICO, que pediu a dez personalidades da cultura para escolher os dez filmes nacionais que devem vir a integrar o Plano Nacional do Cinema (PNC). Entre as escolhas, Fernando Lopes foi o realizador com mais menções, logo atrás de Manoel de Oliveira.

Começou por trabalhar em televisão, ao entrar para a RTP no ano da inauguração, em 1957, e mais tarde, na década de 1980 foi fundador e director da RTP2. No entanto, foi no cinema que se destacou, dividindo-se entre o documentário e a ficção, tendo assinado mais de 50 obras.

Foi depois de se ter formado em cinema, pela London Film School, como bolseiro do Fundo de Cinema Nacional, que de regresso a Portugal realiza “Belarmino”, em 1964, sobre a vida do boxeaur Belarmino Fragoso. É considerado uma das suas maiores obras, uma referência no movimento que ficou conhecido como Cinema Novo.

Em 1965, fez um estágio em Hollywood, onde permanece três meses e quando regressa a Portugal filma “Uma Abelha na Chuva” (1972), adaptação do romance de Carlos de Oliveira. Protagonizado por Laura Soveral e João Guedes, conta a história de um casal e a viver num meio rural, retratando um ambiente social rígido, com as três classes - o povo, a aristocracia e a burguesia - bem demarcadas.

Fernando Lopes realizou ainda “Nós Por Cá Todos Bem” (1976), “Crónica dos Bons Malandros” (1983), “Matar Saudades” (1988) e “O Fio do Horizonte” (1993), sobre o funcionário de uma morgue que procura obsessivamente a identidade de um cadáver, adaptado da obra com o mesmo nome de António Tabucchi.

Em 2002, realiza “O Delfim”, a partir da obra de José Cardoso Pires, argumento escrito por Vasco Pulido Valente. Nas palavras do realizador na altura em que o filme chegou aos cinemas, foi “sobretudo um prodigioso pretexto cinematográfico para entender paixões e emoções, misérias e grandezas de um Portugal agonizante, em plena guerra colonial e com o seu ditador (Salazar) a morrer lentamente, como o país”.

Antes disso, em 1998, seguiu a coreografa Pina Bausch em “Lissabon Wuppertal Lisboa”, quando a sua companhia de dança esteve em Portugal para criar "Masurca Fogo".

Mais recentemente realizou “Lá Fora” (2004), “98 Octanas” (2006) e “Os Sorrisos do Destino” (2009), que terá sido o primeiro filme em formato digital de Fernando Lopes.

Este ano, em Março, chegou aos cinemas a sua última obra, “Em Câmara Lenta”, com produção de Paulo Branco. O filme, que tem argumento de Rui Cardoso Martins a partir do romance "Em câmara lenta", que o escritor e advogado Pedro Reis publicou em 2006, tem como protagonistas Rui Morrison, João Reis, Maria João Bastos e Maria João Luís.

Fernando Lopes viu o seu trabalho ser, por várias ocasiões, distinguido e premiado, tendo sido condecorado pelo Governo francês com a Ordem do Mérito Artístico e pelo então Presidente da República Mário Soares com a Ordem do Infante D. Henrique pelo seu contributo dado ao cinema.

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